Vem comigo, irmão de sonhos,
A serenidade não nos basta.
Juntos subiremos o penhasco
Decifraremos velhos mapas,
Colheremos frutos,
Amores, partituras
E das ruínas surgirá
Um assombroso espetáculo.
Não faremos pausa. Nosso
Caminho é a coletânea
De imagens sobre a pedra.
Em tudo está a união
Das tentativas, o esforço
Dos que nos precederam
E seguem conosco, embora
Transfigurados. Deles
Pouco conhecemos:
Nossa memória é fugaz,
Nossa linguagem
Esconde o que de fato
Se passou conosco.
Vem comigo, irmão de sonhos,
Cruzemos a muralha.
Juntos iremos à última colina
No vale das roseiras ressecadas.
De lá veremos a espiral
Luzindo dunas de ágata,
Juntando sílabas cortadas,
Riscando o ar feito balas.
É um mistério que a vida continue
Após conhecermos seu fracasso.
Só a cartografia nos consola.
Faz com que possamos, de
Algum modo, continuar presentes.
A cada mapa, um vestígio da
Eternidade. Depois aparecem
Litígios, esperanças roubadas;
Grandes geleiras derretem-se em silêncio.
O horizonte ferve, a penumbra acaba
E sóis, incontáveis sóis de rubra pira
Queimam na cidade em polvorosa.
Vem comigo, irmão de sonhos,
Fujamos e busquemos Almada,
A prímula, a hirta fresta,
A fresca sina, a espraiada mancha.
Busquemo-la viva ou em pedaços.
No mar louvemos Atena, seu dourado
Esplendor; partamos em busca
Daquela que sonhamos encontrar.
Talvez ela exista e esteja
Num lugar ignorado,
Límpida, à espera de nós,
Deitada entre lençóis de cânhamo
Jardins de prímulas, colunatas,
Pelúcias e raras pedrarias.
Vem comigo, irmão de sonhos,
Atrás da verdadeira sinfonia.
Talvez ela exista e esteja
Aprisionada em algum
Lugar de nossas vidas
Entre o carmesim e a fúria.
Manoel Olavo