29 de junho de 2013

ESTRANHA ROMA TROPICAL


Estranha Roma tropical
Onde gladiadores gingam
E a multidão consagra
Seu jogo de futebol

Estranha Roma tropical
Onde senhores fodem
Escravos às escondidas
E bastardos são maioria

Estranha gente rude
Atrás da imagem que
Decifre o enigma de
Euforia e depreciação

Estranho país sem pai
Procurando por um no
Mito sebastianista ou
No drama do folhetim

Estranha Roma tropical
Rito de dança e suor
Banzo dentro da alma
Tira o gosto de pensar

Estranha Roma tropical
De povo multicor sem
Medo do ridículo, tribo
Imersa, abismo, incêndio

Estranho mito cordial
Onde o coração comanda
O coqueiro que dá coco
No sufoco à beira mar

Estranho arco-íris do caos
Sonhando ser New Jersey
Dores de latinoamérica
No novo cenário em HD

Estranha Roma tropical
Insulfilm na casa grande
Gangues de aventureiros
Sem fé sem lei sem rei

Estranha Roma tropical
Mesquinha e opulenta
Seu amor incomparável
É uma ilusão de ótica


Manoel Olavo

15 de junho de 2013

PAISAGENS


São paisagens diante

Dos meus olhos

Paisagens móveis

Enquanto luzes piscam


Paris Genebra

Meca Bogotá

Vida noturna

Num boulevard distante

E as pedras


Passam civilizações

Estátuas desossadas

O êxtase do sábio

Descobrindo a fórmula

O glossário dos mitos


O lento caminhar

Por ruas de sal e vício

O sacrifício das virgens

Pilhas de corpos

Dizimados pela peste


A morte

Sempre faminta

Seu rugido surdo

A tudo sobreposto


Meu corpo frágil e nu

Estuário de maldições

Rolando entre as bestas

Que destroem monumentos


Meu corpo frágil e nu

Junto do seu

Ao arrepio da lei

E do tempo


Manoel Olavo

12 de junho de 2013

QUANDO CHEGUEI


Quando cheguei a festa tinha acabado:
O coração do texto estava à mostra,
Todos os estilos concluídos.

Quando cheguei eles faziam
Outra coisa, panfleto identitário, formalismo russo, exegese construtivista,  por aí.

Quando cheguei, pra variar,
O melhor da festa já tinha acabado
- Tem sido assim, na minha geração.

Quando cheguei, não havia lágrimas,
Salvo as de minha infância
(Embora a infância, em si, não seja poesia).

Mas as primeiras lágrimas são únicas.
Depois é a tentativa de chorar de novo,
Ou de fazer poesia como da primeira vez.


Manoel Olavo

3 de junho de 2013

FIO DA ADAGA


A vida inteira
Cercado
Pela morte

Inocente
Eu via

Guerras
Reinos
Glórias

Na ilusão
De ganhar

Vi o
    Sangue
        No fio
            Da adaga


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...