31 de março de 2011

AMOR

No meio do caminho da sua vida
Ele vinha só e as lágrimas caíam

Não era a solidão comum das árvores
Mas a solidão do aço rasgando a carne

Ladeado o rio, transposto o vale
Ele sonhou haver amor total

Amor, lampejo do absoluto
Centro do ser, eterna fonte

(Se quebrou, amor não era
Se partiu, amor não parte)

Amor feito gás e lava de dentro da terra
Criando montes onde nada havia

Amor que chega e se prontifica
E não precisa explicar precárias faltas.

Manoel Olavo

25 de março de 2011

AMO EM VOCÊ


Amo em você
Sua intensidade
A ternura disfarçada
O sonho de voar além das copas

A virtude de ser
Ao mesmo tempo
Arco, braço, alvo e seta

Helena:
Hei de lutar pra lhe reter
Entre feéricas palavras

Mas a beleza que você traz
(Arco do Triunfo) fica intocada

E o verbo inútil se rende
Ante o esforço de dizê-la.

Manoel Olavo

18 de março de 2011

ALGUM LUGAR


Eu já cantei
Mas hoje
Estou ausente

Talvez aqui
Ou longe
Em algum lugar

Haja um oceano ignorado
Onde o dia arrebente
De tanta poesia

E uma ave possa
Voar em paz:
Efeito das asas

E o amor possa
Vir em paz:
Efeitos das almas

Manoel Olavo

16 de março de 2011

SOBRE O ABISMO


Em cima da ponte nos equilibrávamos.
Éramos nós dois a adejar no vento.
Abaixo era o rochedo nu e escarpas
Sanguíneas. Do céu uma imensa ave
De rapina nos empurrava. Mas
Lutávamos bravamente. Aquilo que
Sonhávamos ser, o que víamos
Um no outro (não o que éramos)
Haveria de nos salvar.

Manoel Olavo

15 de março de 2011

MANHÃ DE SOL


A mão aperta o travesseiro
Lágrimas escorrem no lençol

Lá fora, o sol arde
Um pássaro pia
Algumas vezes

Talvez a claridade
Venha nomear a
Indiferença das coisas

Manoel Olavo

14 de março de 2011

PANORAMA DO MAR



A nau -
Debaixo dela
Um mar de
Rochedos e rotas

Ondas
Do mar:
Cristal
Que se rasga

A mão
Inclinada
Fende a
Superfície

Sulco
De ar
Separando
As águas

O mar
É isso:
Um cavo grito
Dizendo volta

Plantar em ti,
Bússola frágil,
O tempo, a morte
A face do possível

Manoel Olavo

PERMANÊNCIA

De sol a sol
Continua a
Evasiva alma
Condenada

Migalhas
Do possível
Esplêndida
Composição

Vida afinal
Reduzida
À soma de
Despedidas

A dor é um vício
A ela sempre
Voltas, cicatriz
Na pele, endereço

O tempo urge
A ilusão acaba
Noite após dia
Caem máscaras

Amor, os olhos
Se movem
Sob pálpebras
Fechadas

Manoel Olavo

12 de março de 2011

GAIVOTAS SOBRE O MAR


Os passos vão e vem como gaivotas sobre o mar
A vida passa devagar enquanto a memória vaga.

A melhor das emoções: amar-te – que foi feito dela?
Que fizemos nós da ternura que agora é desencanto?

Por onde fomos quando havia abundante luz e o dia era claro?
Não se trata de chorar, contar os erros, é a natureza finita das coisas.

As emoções no momento certo, a vida que dispensa imitações
O ritmo dos fatos, corpos e sonhos como gaivotas sobre o mar.

A ferida aberta, a dor de estar aqui e de te amar um dia
Ficará em nós como um jardim de cinzas: o baile não pára.

Sequioso de espaço e tempo, eu parto em busca da aurora
De um novo amor, que seja a sombra duma árvore num deserto
                                                                        [seco e impressentido.

Manoel Olavo

11 de março de 2011

JANELA DO AR


Janela do ar
Recinto fechado

O dia é a tela
Seu retrato é luz

Matriz que floresce
No chão sideral

Vinda de outro céu
Além do visível

Mantém-se um minuto
Claridade em mim

Sou fruto do sonho
De uma vida alheia

De um sopro distante
No escuro da noite

Aguardo o desfecho
Entre o sol e o caos

Manoel Olavo

2 de março de 2011

CEDO OU TARDE



Cedo ou tarde eu procuro o teu abraço
O teu alívio, afago, encantamento...
Tudo o que és me prende e eu me desfaço
Num toque de mão, em poesia e vento.

Cedo ou tarde, sem ti, eu perco o passo
Emparedado no mesmo momento.
O tempo só flui se tu passas. Vejo
Brilhar teu ser como um quinto elemento.

Cedo ou tarde volto ao passo parelho
Da estrada de tijolos amarelos.
São teus sapatos, belos e vermelhos

Que eu sigo nesta trilha de farelos.
Como a flor que segue o sol; como um espelho
Perante outro, em infinitos elos.

Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...