30 de dezembro de 2016

PEGADAS


Se eu pudesse voltar à mesma estrada
Se eu pisasse em cada pegada deixada
                                                        [na areia
Mesmo assim não saberia de mim

Não sou eu quem está ali
Isto se deu noutro tempo
Noutro corpo noutra ocasião

Racionalmente sei que estou nesse mapa
De intenções passageiras e passos dados
Mas só como cartografia

Eu me vejo nos vestígios do passado
O passo gravado me faz recordar
Porém tudo me espanta

Assim rabisco cada folha em branco
Rasgo cada carta antes endereçada
Deduzo aos poucos o que me aconteceu
Quando eu não conseguia ver


Manoel Olavo

25 de dezembro de 2016

FALA


O sopro da fala é súbito
Golpe de vento no acaso

Derruba todos que tentam
Capturá-lo, sempre escapa

Ninguém sabe porque
Se dá o som ou a fúria

Ninguém sabe deter
O jogo atrás da cena

O homem é a frágil fala
Procurando a coisa


Manoel Olavo

24 de dezembro de 2016

FLOR



Onde estás
Meu encoberto jardim
Minha paixão meu ardil
Meu remanso de noites ocultas?

Não vi que estavas do meu lado
Até teu nome chegar pelas raízes
E florescer em mim
Como flor encravada na pedra.

Amor, amor
Eu te descubro
Farta planta cor de verde
E busco teus indícios
Na ramagem.

Te sigo como quem
Caminha nas montanhas
Atrás da improvável
Flor de carne 
De pétalas douradas.

Visão que paralisa
Meu olhar de explorador cansado 
No outono de uma vida
                               [sem amores
Que não conhecia
Tua beleza cor de flora.

Amor, eu te surpreendo pênsil
Acima de todas
Rainha sem igual
Entre as flores fêmeas.

Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...