28 de outubro de 2013

INVERNO


Inverno
Na dureza das palavras

Inverno
No breviário das sombras

Inverno
No equilíbrio das somas

Lendo
Os próprios pensamentos

Água
Gotejando da parede

De rocha
Ter silêncio e recolhimento

A morte
No mergulho tátil das trevas

Sem eu
Ser desfeito menos um

A morte
É finalmente estar sozinho

Noite
Fria de completa solidão

v

       i

              b

                    r

                            a

                                    n

                                            d

                                                    o


Manoel Olavo

OUTONO


Lembre agora amigo
A primeira você abandonou
A segunda o traiu
A terceira aquele tiroteio
A quarta francamente
A quinta um pacto de morte
E lá se foi você
Aos pedaços
Aos frangalhos
Aos milhares

De noite cintilavam
Pirilampos
E você estava só

Sob um signo luminoso
Você cruzou a estrada
Que já não temia mais
(flechas dardejando
sobre sua cabeça)
Trêmulo você se resignava
Empilhava camadas de sol
Na meia-luz de um
Outono antecipado

Havia sonho
Amigo
Mas era pouco

Pro senso comum
Isso um dia passa
Como o amor acaba


Manoel Olavo

27 de outubro de 2013

VERÃO


Durante o verão, que tudo aquecia,
Eu despertei e trouxe até mim
Uma fêmea gentil, nua e macia,
De cuja beleza antes desavim.

A quantas poderei amar? Em cada
Nova mulher, consagra-se o lirismo.
Em todas, sim, a verdadeira amada.
Em todas, sim, a perdição do abismo.

Em todas, sim, um amor infinito.
Transbordante de mim, me ultrapasso.
Sou feliz a cada sim, a cada grito
De prazer da mulher que satisfaço.

Com elas, sou infinito. Sou fogo
De amor, chicote de tesão talhando
Chaga. De tanto amar, invento o jogo
De conquistar pra não morrer amando.

Meu corpo é a dissipação do uso.
Esta fome de amor a todo instante
Será fatal? Não, eu louvo este abuso
Enquanto morro quente e triunfante.


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...