16 de outubro de 2012

HOUVE AMOR


Houve amor, ela não quis
Sou eu que admito a derrota
Amar é isso, a mais alta resignação
A um dia como este, segue-se a noite

Fale-me de amor
Refém do vazio
Retrato, antevéspera duma execução
Fujo de hipóteses ou parcelas de culpa
Eu a vejo nua, óbulo sedento
- A memória engana –
Virá um crepúsculo carmim cobrindo tudo
E a escuridão
É só o que sabemos

Vida, vida
Eu te quero inteira
Teu lugar é aqui, não nas alturas
Ouve o silêncio dos presságios
Buscando amor na cena de outra vida

Manoel Olavo

15 de outubro de 2012

POR ORA


Por ora

Eu silencio
     
           E passo

Amor?

É só pra vender anúncio


Manoel Olavo

14 de outubro de 2012

ENTRELAÇADOS




Milhões de cintilações noturnas levam embora o que ele ia lhe dizer. Ela entende, sacode os cabelos negros. De novo, ele se esquece. Paira no ar a doce sombra herdada, o repouso, a trégua entre os lençóis. Na memória do tempo, eles virão entrelaçados.

Manoel Olavo

13 de outubro de 2012

NEM TUDO


Nem tudo é aparente
Mas o que amo em ti
É justamente esta ferida viva
Teu silencioso apego
A alma que não foi
Apaziguada

Manoel Olavo

11 de outubro de 2012

NUM QUARTO PEQUENO



Num quarto pequeno, de poucos
Móveis, quatro paredes brancas,
Piso de madeira gasto, sozinho,
Num quarto em Santa Tereza,
Sem nenhuma esperança,
Num tempo quase sem passar,
Veio a ideia: agarra as imagens,
Poeta, até as esparsas. Salve-as.
Ponha-as no papel, na materialidade,
E ouve o som, o som que se anuncia
(Há uma voz ali, meio abafada).
Assim nasceu a clareira da palavra,
O ato de abissal transbordamento.

Manoel Olavo 

5 de outubro de 2012

FEITO PEDRA



Só há gesto, riso, rima,
Para te revelar, amor.
A existência tem valor
Enquanto nos aproxima

E provoca, entre distantes,
O seu efeito. Se acabar               
O mundo, se o céu desabar,
Se parar o tempo antes

Da hora de te encontrar,
Não importa: faço tudo
Outra vez. Renasço, mudo
De universo, até te achar.

Se for preciso, te espero
No silêncio mineral:
Feito pedra. Ato final
De amor e de desespero.


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...