29 de maio de 2012

EU TE ESPERAVA


Eu te esperei na noite fria
Quando tudo era oculto
E o mundo começava
- Amor, eu te esperava.

Nas águas do fundo
Da vida que nasce
Nos ventres e pomos
- Amor, eu te esperava.

Num dossel de luz
Nos pedaços das
Primeiras palavras
- Amor, eu te esperava.

Nas revoadas no céu
Depois do breu e da
Tormenta dissipada
- Amor, eu te esperava.

Nas explosões de lava
Nos corais azuis, nas algas
No teto da antiga sesmaria
- Amor, eu te esperava.

No estuário comum
Fonte do mesmo rio
Alma da mesma água
- Amor, eu te esperava.

Manoel Olavo

16 de maio de 2012

ESCUTA



Ao teu redor
Eu venho voando
Como um pássaro
Em torno da lira
Como um vento
Que sopra à ilharga

Beleza demais
Da tua verde luz
Do teu verbo raro
Do beijo com sabor
De mares consagrados

Escuta:
Não há mistério algum
Há o segredo de te amar
E adormecer calado...

Manoel Olavo

12 de maio de 2012

AMO-TE POR FIM

Amo-te por fim
E neste enigma
Te desejo minha

Amo-te colossal
E tudo quanto há
Vai ao teu encontro

Nada mais existe
Em que não haja
O teu lado avesso

Pensei que fosses
Encanto passageiro
Mas és real, nutriz

Alívio em afeto
Transformado

Olho que me espalha
Em mil espelhos

Sabia-te mais do que pedira
Sabia-te mais do que sonhara
Medida voraz de todos os incêndios

Amo-te assim um amor sem erros
Maduro e desnudo
E querendo-te demais te levo
Por dias de voar ao rés do sonho


Manoel Olavo

10 de maio de 2012

CARTA



Ah, então era aí que você se escondia?
Onde estava seu relevo, sua graça volátil
Seu nome em mutação, seu halo de estrela
No tempo que veio frio e deserto
Quando esperei a aurora sempre adiada
Revirei baús, organizei histórias
Ouvi canções prediletas
Tentei ler mentes, guardar segredos
E veio o vento e tudo foi-se embora...?

Ah, então era aí que você se escondia?
É bom saber disso.
É bom saber que você está aí
Seu olhar vivo e surpreso
Sua faísca, sua inquietação.

Eu, aqui, refém de sonhos profanados
Conto feliz as horas
Que antecipam nosso encontro.

O mar, à nossa frente,
Move as suas ondas.


Manoel Olavo

8 de maio de 2012

DEPOIS DE TI





Pousa a tua mão
No meu rosto
Porque te amo
E sei voar contigo.

A fonte, amor,
És tu. O leito,
Eu bebo em
Meio à travessia.

Toma-me:
Beijo teu corpo
Coberto de
Palavras.

Nus, os signos
Amarrados em
Teu ventre.

Antes de ti
Eu era partido
Ao meio.

Depois de ti
Sou um mar 
De saliva e versos.


Manoel Olavo

7 de maio de 2012

RITA

Rita

Eu te amei

Como um adolescente

Tumultuado consegue amar

Mas a sua força

Parece interminável


Manoel Olavo

PAULA



Paula

Que encontrei no

Shopping Center

Descendo a escada

Parecia quase bela

Um passo a mais

E seria linda

Mas parou num

Ponto indefinido

Entre a feiúra e a

Angústia disfarçada

- Como olhos verdes enviesados

Podiam ser tão feios?


Manoel Olavo

ROSANA

Rosana

Pra namorada você não serve

Pálida demais

Um sopro de ar gela suas veias

Eu desço intrigado

Ao porão de sua alma

E tudo o que eu encontro

É você pensando em mim


Manoel Olavo

6 de maio de 2012

ELIZÂNGELA



Elizângela

Amava Rilke e Maiakóvski

Lia obstinadamente

Explodia a menor contrariedade

Muito séria e dedicada

Tinha medo do que

Os homens podiam lhe fazer


Manoel Olavo

NORMA



Norma me falou que viria às sete

Era incapaz de um sorriso óbvio

Beleza louçã

Corpo de marfim na beira da calçada

Beijava confortavelmente

Sempre às voltas com uma

Interminável trança


Manoel Olavo

AUSÊNCIA

Um claro sinal
Me dá a notícia
De que voltaste
Às alamedas costumeiras
Aonde ias passear

Tua dócil figura
Tão semelhante e tão minha
Perdidamente minha
Eu vi

Pelas ruas
Em que andei contigo
Os caminhos se abrem
E vão ao limo

Atônito
Te vejo dançar
À minha volta

O que é nosso
Cintila
Acontece
Outra vez

Em ti
Permanece
Em mim
Resiste

Vislumbre
Da tarde perdida
Que me revigora
E vai-se embora
Enquanto é tarde


Manoel Olavo

DOSTOIÉVSKI



Eu dormi num catre

Senti frio

Fui dilacerado por dilemas

                         [sobre o bem e o mal

Enlouqueci

Vi a face de Deus

Mesmo assim

Não sou um personagem de Dostoiévski


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...