Ela virá
Iluminando a madrugada
Aurora boreal
Mar de quilobytes
Ela virá
Jamais ambígua
Muitas virão
Cheias de si
Porém etéreas
Ela virá
A cada instante prometida
Juntos nós caminharemos
Na infohighway
Manoel Olavo
19 de novembro de 2014
16 de novembro de 2014
PANORAMA DO MAR
A nau -
Debaixo dela
Um mar de
Rochedos e rotas
Ondas
Do mar:
Um cristal
Que se rasga
A mão
Inclinada
Fende a
Superfície
Sulco
De ar
Separando
As águas
O mar
É isso:
Um cavo grito
Dizendo volta
Plantar em ti,
Bússola frágil,
O tempo, a morte,
A face do possível.
Manoel Olavo
24 de setembro de 2014
ASSIM SOMOS NÓS
A linha
Indivisível opera
Entre a decisão do nome
E a noite escura lá fora
Prepara frases
Reúne fragmentos
Salva palavras caídas
No precipício
Tesouro imperfeito:
Meu esforço é a
Sua lenta espera
Atenta ela vem
E se apodera
De quem a invoca
A musa em milhões de sóis
[imaginada
Assim somos nós
Filhos do mar
Da água e do sal
Presos num deserto
Em busca de poesia
Comensais da palavra
Buscando a loucura
Das sensações
Manoel Olavo
Indivisível opera
Entre a decisão do nome
E a noite escura lá fora
Prepara frases
Reúne fragmentos
Salva palavras caídas
No precipício
Tesouro imperfeito:
Meu esforço é a
Sua lenta espera
Atenta ela vem
E se apodera
De quem a invoca
A musa em milhões de sóis
[imaginada
Assim somos nós
Filhos do mar
Da água e do sal
Presos num deserto
Em busca de poesia
Comensais da palavra
Buscando a loucura
Das sensações
Manoel Olavo
29 de agosto de 2014
JUNTO AO MAR
Nenhum sentido completa
A trajetória iniciada junto
À minha fonte, imagem
Congelada, onda de
Metal, lembrança todo
Dia retorcida. Nenhum
Caminho justifica este
Esforço de Sísifo, nem
A tangível imagem à
Meia-altura, vontade
De algum dia obtê-la,
Ela que, longe, se oculta,
E leva a uma nova viagem
No mar que se abre em
Frente e, em seguida,
Apaga cada pegada num
Golpe de areia e de água.
Manoel Olavo
1 de agosto de 2014
ODE EM FASES
Poesia, eu te sabia
Flor, dor ou até fezes.
Agora eu sei: és fases.
Falar de ti, quem deve?
Amor perdido, corpo
Nu, vã filosofia:
São só modos de usar.
Por que serão poesia?
Por isso eu te segui
Mas estavas na frente
Véu de palavra dada
Céu de pássaro ausente.
Não te conduz a rosa
Tampouco o fingimento.
A mais bela nasceu
Do meu esquecimento.
30 de julho de 2014
DORME AMADA
Dorme, amada
É cedo ainda
Seus olhos devem repousar
Meus olhos semicerrados vêem
A luz se derramando na sua pele
Dorme, amada
Pois zombamos
De que algo nos desfaça
Pensos no céu
Aves azuis, nós dois
(um único ser
indiviso e ímpar)
Rodamos e seguimos juntos
Dentro da manhã que rompe a treva
Manoel Olavo
22 de julho de 2014
NUM DIA DE OUTONO
Todos os dias de outono parecem iguais
Com seu friozinho agradável, árvores despidas e um céu azul de poucas nuvens
Todas as noites de outono parecem iguais
Com suas chuvas passageiras e o silêncio da escuridão profunda
Nos dias claros de outono a cidade fica enfeitada de folhas mortas
E a limpeza urbana deixa muito a desejar
Nos dias tristes de outono a natureza continua o seu intento
E eu me sinto igual à circundante natureza morta
Nos dias turvos de outono a duração das coisas é lenta
Bem mais do que parece possível suportar
Parecem ensaiar um novo começo de tudo
Num dia de outono, seco e claro, igual a tantos outros,
Eu pude enfim me libertar do sufoco de um amor que não existia
Manoel Olavo
20 de julho de 2014
19 de julho de 2014
RITUAL
Todo dia se encontram.
São como colegiais
Treinando ritos secretos.
Dentro da sala procuram
Seus reflexos no espelho.
Não se vê cor nem ideia.
Pálidas faces sem dor
No assombro da plateia.
Sobreviventes orbitam
Seu vazio em desespero.
Eu os deixo sem pesar.
(Antes solidão que nada)
Parto atrás da estrela tíbia
Da que imergiu lá no céu
No ar, leve, além de mim
Sem luz, porém cintilando.
Manoel Olavo
São como colegiais
Treinando ritos secretos.
Dentro da sala procuram
Seus reflexos no espelho.
Não se vê cor nem ideia.
Pálidas faces sem dor
No assombro da plateia.
Sobreviventes orbitam
Seu vazio em desespero.
Eu os deixo sem pesar.
(Antes solidão que nada)
Parto atrás da estrela tíbia
Da que imergiu lá no céu
No ar, leve, além de mim
Sem luz, porém cintilando.
Manoel Olavo
PAPÉIS
Junto folhas esparsas sobre a mesa e nelas estão rabiscos, versos incompletos, jogos de palavras. Alguns são belos, outros incompreensíveis. Outros apenas sugerem. São pedidos de amor numa língua desconhecida. Parecem descosidos, uma alma em pedaços tentando se agrupar. Reúno os papéis num só maço, alinho-os e penso que cada um deles, isoladamente, é uma parte não rimada de mim. Insisto na harmonia. Maltratado pelo tempo, algo em mim espera e quer acreditar. A cada dia, aparece algum lugar inabitado, algum sentimento inaudito, e esta esperança pode se mostrar menos irracional. Muitas vezes, são meses sem sequer olhar para o céu. Porém, a cada nova impressão de luz desvelada, é como se me voltasse o mar pela primeira vez. Como se eu pudesse erguer castelos indestrutíveis na areia. Hoje sei que a vida é fugaz e, cerimoniosamente, conto os meus mortos. Também sou feito deles. Não os lamento. Não os choro. Resisto. Sou feito daquilo que me funda e também do que me finda.
Manoel Olavo
16 de julho de 2014
OUTRA DIMENSÃO
É a antiga casa, intacta,
Longe deste gigantesco mar de prédios.
Eu abro sem pensar o portão de ferro,
Rangendo o passado, atravesso
O jardim cheio de sombras,
Cercado por paredes descascadas.
Lentamente, vou para o outro lado
E subo pela escada ao primeiro andar.
Vejo o meu antigo quarto:
A nau do medo no fim do corredor.
A cabeceira, a cama,
Os papéis amontoados,
O mormaço entrando pela janela,
O ar que não toca as coisas humanas
E tudo é azul e branco e ouro
E infinitas sombras arredias.
(Não é a mesma dimensão
Onde o perdigueiro brincava comigo)
Há um precipício ali, mas eu não sabia.
Há uma grande dor, nem tão mortal
Quanto a que virá mais tarde;
E o peso da sua mão impiedosa.
Um dia eu quis ser de pedra
E me esconder da vida.
Conhecendo o enredo até o final,
O olho da cena antevê o seu martírio.
E quanto a mim: sobreviverei
A tamanho cataclismo?
Na velha casa de tijolos sombrios,
Como posso me abrigar dos seus destroços?
Manoel Olavo
Longe deste gigantesco mar de prédios.
Eu abro sem pensar o portão de ferro,
Rangendo o passado, atravesso
O jardim cheio de sombras,
Cercado por paredes descascadas.
Lentamente, vou para o outro lado
E subo pela escada ao primeiro andar.
Vejo o meu antigo quarto:
A nau do medo no fim do corredor.
A cabeceira, a cama,
Os papéis amontoados,
O mormaço entrando pela janela,
O ar que não toca as coisas humanas
E tudo é azul e branco e ouro
E infinitas sombras arredias.
(Não é a mesma dimensão
Onde o perdigueiro brincava comigo)
Há um precipício ali, mas eu não sabia.
Há uma grande dor, nem tão mortal
Quanto a que virá mais tarde;
E o peso da sua mão impiedosa.
Um dia eu quis ser de pedra
E me esconder da vida.
Conhecendo o enredo até o final,
O olho da cena antevê o seu martírio.
E quanto a mim: sobreviverei
A tamanho cataclismo?
Na velha casa de tijolos sombrios,
Como posso me abrigar dos seus destroços?
Manoel Olavo
11 de julho de 2014
MEMÓRIA
Pra cada ídolo morto
Pra cada rei deposto
Pra cada amor perdido
Surge um vento na
Forma de palavra
Porém
Na fria iluminura
Da memória escrita
É impossível contar
Aquilo que aconteceu
Manoel Olavo
9 de abril de 2014
SEU NOME
Nesse temporal
Seu nome é diagrama.
É um pó de letras
Na inundação.
Eu não vou dizê-lo.
Não quero trazer
Seu nome secreto
De volta dos escombros.
Mas são partículas
Sílabas fonemas
Rimas de amor
Cercando o cais destroçado
O que restou de um
Naufrágio de avessos.
A água (se um dia evaporar-se)
Deixará seu nome mineral
Em insolentes camadas;
Finalmente, feito pedra.
Seu nome é diagrama.
É um pó de letras
Na inundação.
Eu não vou dizê-lo.
Não quero trazer
Seu nome secreto
De volta dos escombros.
Mas são partículas
Sílabas fonemas
Rimas de amor
Cercando o cais destroçado
O que restou de um
Naufrágio de avessos.
A água (se um dia evaporar-se)
Deixará seu nome mineral
Em insolentes camadas;
Finalmente, feito pedra.
Manoel Olavo
4 de abril de 2014
EU OLHAVA MAS NÃO VIA
I
Eu olhava
Mas não via
Esse punhal
Essa dissipação
A interseção na ordem geral das coisas
A repetição de ciclos
No movimento dos dias
A máquina
A ferrugem
Seu pó e suor
Eu olhava
Mas não via
II
Antes não havia
Essa colisão na margem do crepúsculo
Esse corpo infestado de cristais
Angélicos vagabundos voando sobre as palafitas
A decomposição
Na moenda dos dias
A carne do rio
A pedra
Sua mão oculta me tocando em feéricas faíscas
A circunvolução
O inseto cravado na casca
O dente cravado na boca
O tempo perante o qual se curvam a solidão e o sangue
O silêncio no qual se dissipa um resto de mim por toda parte
Esse ermo
Em forma de palavra
Manoel Olavo
1 de abril de 2014
EROS
O poeta teme
Ferir sua musa
Se tirar-lhe a blusa
E tocar-lhe a pele.
Musas: o que são?
São simples apostas
De amor, ou promessas.
Mas tu? És derrisão,
Risco, sobressalto.
És o que margeia
O topo da ideia
E toma de assalto.
Mais do que beleza
Tu és quem avança
Onde nada passa
E arrasa a certeza.
Helena: hei de vê-la
Nua. E afinal despida
(De corpo, alma e vida)
Amar-te, alva estrela.
Manoel Olavo
28 de março de 2014
VENTO ELÍSIO
Lento e minucioso meu sopro caminha
Por seu corpo nu pele branca à mostra
Eu, Elísio, vento soprando na fresta
Inspeciono cada ponto oculto, toco
Cada vale, gomo, relevo, rego
E cada impressão deste contato
Gravada de modo geométrico
Permanece comigo na memória
Da passagem do corpo pelo vento.
Pra sobreviver, o sopro vira verbo
O esboço visual vira palavra.
Por isso não desprezo o verso,
Seu esforço evocativo. De fato,
Louvo este exercício de som
E sentido, sintaxe da permanência,
Capaz de despi-la plena puta nua
Desatinada inteira ao meu comando
Arte e efeito de tentar mantê-la
Sob meu domínio, embora comigo
Não esteja, nem ao menos consinta.
ENVOI
Lento e minucioso meu sopro caminha
Por seu corpo nu pele branca à mostra
Não ouso abandoná-la à própria sorte
Antes perdê-la ao verso que à morte.
Manoel Olavo
14 de janeiro de 2014
NÓS, OS QUE VIEMOS ANTES
Ainda as estrelas não estavam à venda
Não eram tantos os gadgets disponíveis
Não havia tanta sofreguidão
A vida não chegava pela internet
A destruição de um país
O salário de fome
A perda de direitos
O imperialismo
O processo cruel de acumulação de capital
Pareciam imorais
Acreditávamos numa aurora
De justiça e igualdade
Ninguém que valesse à pena
Contava vantagem
Por ter dinheiro
Havia algo mais essencial
Tínhamos um certo pacto
Uma ânsia por verdade
E valores coletivos
Antes de tudo
Era preciso sonhar
Era preciso saber
De Pixinguinha e
Vinicius de Moraes
Era preciso beber
Até o raiar do dia
Era preciso ouvir
Chico Buarque
Saber um verso
Do Neruda de cor
Era preciso amar
A mística da
Revolução cubana
Era risível alguém
Querer se destacar
Pelas roupas de griffe
Decerto todos nós
Sabíamos que a
Felicidade não vinha
Do consumo material
Um rapaz confiável
Não pensava ganhar
Seu primeiro milhão
Antes dos trinta anos
Um rapaz confiável
Lia o pasquim
No sol do posto 9
E fumava maconha
Pensando em utópicas
Revoluções
Éramos erradios
Amávamos como quem
Divide o próprio pão
A burrice
E os preconceitos do senso comum
Eram reprováveis
Era melhor se calar
Do que soar estúpido
Ou reacionário
Imperdoável
Era sair da praia
Antes do pôr-do-sol
Imperdoável
Era se recusar
A compreender
Estranhamente
Éramos assim
Nós, os que viemos antes
Manoel Olavo
5 de janeiro de 2014
FALTA
Meu amor acende
E se inflama no seu
Flanco. Aos trancos
E barrancos, conto
O tempo. Crispado
De sóis, me espanto.
É dócil o silêncio
Do amor destruído
Quando adia o lento
Ritmo da morte.
Amor: em seu nome
Tenho a minha falta.
E se inflama no seu
Flanco. Aos trancos
E barrancos, conto
O tempo. Crispado
De sóis, me espanto.
É dócil o silêncio
Do amor destruído
Quando adia o lento
Ritmo da morte.
Amor: em seu nome
Tenho a minha falta.
Manoel Olavo
1 de janeiro de 2014
FOTO SÉPIA
I
Bom dia
Ele disse
À gente
Morta
Na foto
Sépia
II
Era a
Foto do
Tempo
Em que
Não se
Escolhia
III
Tempo
Em que
Ele ria
Numa
Foto
Sépia
IV
Bom dia
Ele disse
À vida
Esvaída
Na foto
Sépia
V
Vida
Que de
Vez em
Quando
Ainda
Doía
Manoel Olavo
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