4 de abril de 2014
EU OLHAVA MAS NÃO VIA
I
Eu olhava
Mas não via
Esse punhal
Essa dissipação
A interseção na ordem geral das coisas
A repetição de ciclos
No movimento dos dias
A máquina
A ferrugem
Seu pó e suor
Eu olhava
Mas não via
II
Antes não havia
Essa colisão na margem do crepúsculo
Esse corpo infestado de cristais
Angélicos vagabundos voando sobre as palafitas
A decomposição
Na moenda dos dias
A carne do rio
A pedra
Sua mão oculta me tocando em feéricas faíscas
A circunvolução
O inseto cravado na casca
O dente cravado na boca
O tempo perante o qual se curvam a solidão e o sangue
O silêncio no qual se dissipa um resto de mim por toda parte
Esse ermo
Em forma de palavra
Manoel Olavo
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