16 de julho de 2014

OUTRA DIMENSÃO

É a antiga casa, intacta,
Longe deste gigantesco mar de prédios.
Eu abro sem pensar o portão de ferro,
Rangendo o passado, atravesso
O jardim cheio de sombras,
Cercado por paredes descascadas.
Lentamente, vou para o outro lado
E subo pela escada ao primeiro andar.
Vejo o meu antigo quarto:
A nau do medo no fim do corredor.
A cabeceira, a cama,
Os papéis amontoados,
O mormaço entrando pela janela,
O ar que não toca as coisas humanas
E tudo é azul e branco e ouro
E infinitas sombras arredias.
(Não é a mesma dimensão
Onde o perdigueiro brincava comigo)
Há um precipício ali, mas eu não sabia.
Há uma grande dor, nem tão mortal
Quanto a que virá mais tarde;
E o peso da sua mão impiedosa.
Um dia eu quis ser de pedra
E me esconder da vida.
Conhecendo o enredo até o final,
O olho da cena antevê o seu martírio.
E quanto a mim: sobreviverei
A tamanho cataclismo?
Na velha casa de tijolos sombrios,
Como posso me abrigar dos seus destroços?

Manoel Olavo

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