Ainda as estrelas não estavam à venda
Não eram tantos os gadgets disponíveis
Não havia tanta sofreguidão
A vida não chegava pela internet
A destruição de um país
O salário de fome
A perda de direitos
O imperialismo
O processo cruel de acumulação de capital
Pareciam imorais
Acreditávamos numa aurora
De justiça e igualdade
Ninguém que valesse à pena
Contava vantagem
Por ter dinheiro
Havia algo mais essencial
Tínhamos um certo pacto
Uma ânsia por verdade
E valores coletivos
Antes de tudo
Era preciso sonhar
Era preciso saber
De Pixinguinha e
Vinicius de Moraes
Era preciso beber
Até o raiar do dia
Era preciso ouvir
Chico Buarque
Saber um verso
Do Neruda de cor
Era preciso amar
A mística da
Revolução cubana
Era risível alguém
Querer se destacar
Pelas roupas de griffe
Decerto todos nós
Sabíamos que a
Felicidade não vinha
Do consumo material
Um rapaz confiável
Não pensava ganhar
Seu primeiro milhão
Antes dos trinta anos
Um rapaz confiável
Lia o pasquim
No sol do posto 9
E fumava maconha
Pensando em utópicas
Revoluções
Éramos erradios
Amávamos como quem
Divide o próprio pão
A burrice
E os preconceitos do senso comum
Eram reprováveis
Era melhor se calar
Do que soar estúpido
Ou reacionário
Imperdoável
Era sair da praia
Antes do pôr-do-sol
Imperdoável
Era se recusar
A compreender
Estranhamente
Éramos assim
Nós, os que viemos antes
Manoel Olavo
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