4 de dezembro de 2010

UMA CANÇÃO DE AMOR

Eu sei que entre nós dois existe gente à beça.

Velhos casos de amor, encontros adiados.

Sonhos de salvação, medos, expectativas.

Desejos comuns se arrastando pelas valas.

E valores diferentes! Sim, nós dois os temos.

Somos produtos sociais de tempos de crise.

Filhos de gente não recomendável, seres fronteiriços. 

O ódio e a ilusão são o alimento farto de nossas vidas,

Da dor de existir e querer gozar em dobro.

Pois haverá choro e ranger de dentes.

Nossa língua falará sem dizer nada,

Sem se mostrar de fato.

Um arqueiro cairá morto sobre a casa.

Os deuses se cobrirão de ouro, com luvas de pelica.

Nós dois seremos despedaçados.

Há uma avenida de corações partidos entre nós

E muita gente feliz vivendo junta.

Há bem mais do que isso, mas a verborragia romântica

Às vezes cansa. E não é lícito comparar paixões,

Odores, climas, mucosas.

Não é lícito forjar mentalidades.

Tantas noites eu saí por aí, 

Se você soubesse, e mendiguei afagos.

Tantas noites eu fui doido, feroz, autoindulgente.

Agora, não, eu canto de madrugada.

E o meu lamento soa no terreiro

Enquanto não brilham as luzes da Broadway.


Manoel Olavo

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