Da fonte comum que banha nossos corpos
E almas; e esfrega-os, afaga-os a sós;
Une restos de luz a cores renascidas.
Oh celebrado sentimento de sentir-se amado!
Da destruição, nós estamos fartos.
Sabemos bem que gemidos sussurrados
Não bastam para vencê-la.
Restou porém uma pedra e uma árvore
E com elas fizeste um universo inteiro.
Restou porém uma vigília atenta
E a ânsia de nascer entre os destroços.
Tu e eu sofremos tanto, braços dados
Com o vazio, vendo partir quem não podia.
Tu e eu rondamos a face do terror,
Densidade negra da vida desprezada,
Na hora de chumbo em que nada soa.
(Mas celebrar a perda pode ser retê-la)
Começar de novo, sempre e à própria sorte,
A jornada em que o fragor não é vencido.
Poder sorrir da vida que é martírio e enlevo.
Em seu dossel dormir, quedar-se aflito
Pedir alívio pra dor, novos amores,
Imprevistos desejos, acenos de madrugada.
Estranho é pedir amor empunhando letras!
Estranho é querer gritar e guardar no peito.
Estranho é chegar quase morto ao fim do dia.
De onde, afinal, jorra da fonte o nascedouro?
Não estará entre lençóis macios o breve
Gesto de amor que um dia me negaste?
Manoel Olavo
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