1 de dezembro de 2010

ALCMENE

Poucos poderiam saber
O que nos reserva
O fim deste labirinto:
Um alento, um missal de
Gestos, uma estrela suspensa?
Ou uma impressão de céus,
Um par de mãos crispadas,
Atropelos, azuis em fuga,
Animais, letras, espumas,
Soldados, filosofia em círculos,
Numa súbita explosão
Que vem de longe?
Move-se a terra, ergue-se
O mar, uma nova
Substância deposita-se
No fundo das crateras.
Ruiu, ruiu, assim todos se calam.
Acima do chão, há cacos de tempo,
Vasos quebrados e Alcmene,
Seu olho de prata, vivo, parado
Em grumos desiguais de cor
E severidade. Da fortaleza, nada.
O olho que outrora revelou
Vem nos dizer que não podia.
Esse olho, agora, lê.
Mata o mar que antes prometia,
Fere o chão que antes fecundava.
A medida de cada um
Para sempre capturada.
Vasto céu de noite e medo
Sobre rutilante esfera, vento,
Ameaça, a lei da servidão em gotas,
Tudo em asas se avoluma e vive.
A fábula se antecipa, pressente seu fim,
Mas não!, devemos todos cantar,
Fingir felicidade, desfrutar
Do passatempo enquanto
O mar inunda a nossa sala.
Será esse maremoto nossa última poesia?


Manoel Olavo

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