Na soleira da casa
Em que fiquei sozinho
Eu canto uma toada
De pássaro sem ninho.
Vivo só entre os restos
Da minha infância morta.
Verdades? Sonhos? Mitos
Que me deixaram à porta?
Não sei, mas não lamento.
Ali não fui feliz,
Nem tive sorte ou tento:
Ave que ninguém quis.
Apesar da ilusão
Eu, junto da família,
Sentia a solidão
De náufrago na ilha.
Às vezes imagino
Consertar o passado:
Inventar um menino
Que se soubesse amado.
Não sei se realmente
Um dia o conheci.
Nasci entre essa gente:
Nunca lhe pertenci.
Manoel Olavo
uma doce melancolia num grande poema! Aplaudo-te!!
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