4 de abril de 2010
TARDE DEMAIS
I
Tarde demais
Eu lhe disse
a verdade:
Não te amo
Não te quero mais!
Vou partir em meio à multidão
desconsolada
Na estreita e vaga luz que me constrange os órgãos
E pedirei reforços
Queimarei meus pés em betume e versos brancos
O prédio
O mar azul
Seu sorriso nunca antes adiado
Eu fatiarei as nuvens
Fritarei em óleo
a sua carne tenra
Convidarei velhos amigos
O olho estreito a rua lotada
A multidão à nossa volta
Gente revirando os restos
A face noturna do real
Sempre pedindo mais
II
Ainda penso em você
No calor dessa calçada antiga
O dia passa
Vem o ocaso do desejo
Traz mais uma vez
Memórias sem notícia
A noite vela
O corpo dela tão inocente
Um vidro fumê na alma
Os segredos
Em momentânea suspensão
Ah eu poderia ver
Como se fosse
Uma primeira vez
O que me importa
Poderia ver
Em lâminas
O acontecido
A hora impossível
O eclipse
Tão logo o sinal
De novo se fechasse
A multidão
Se detivesse
Tão logo a lua
Brilhando cores indistintas
Acelerasse a melodia
A trilha fugaz onde caminho
Tão logo despertasse
A besta-fera
Que há em nós
III
Vestígios:
Agora tudo deu errado
Agora
Inês é morta
A manhã segue como um féretro
Eu me calo
À beira da calçada antiga
Tento achar
a solução do enigma
a resposta
Tarde demais
Ela me deixa
O verbo encarnado
A face sem contorno
Assim como veio
Parte
IV
Entreaberto o peito
Restam as lágrimas
E outros fluidos corporais
Súbita estiagem
Na alma em chamas
Breve virá o construtor
V
Liberto das coisas
de sua constante antevisão
Desço ao fundo
de mim
e me recordo
Da medida avessa e crua
Porém minha
Do pintor das ruas
Do eleito dos ares
O bravo lutador
Um romance cheio de alegorias
Desço ao fundo de mim
me contemplo
me revejo ali
ao largo
Há pele suor corpo pêlos
Escotilhas que se fecham
Há uma medida avessa e crua
meio perdida
Porém minha
Nascida de turbulentas fundações
Matéria agridoce
Delírio verbal e agonia
Sei disso como sei dos
Passos duma pequena teodicéia
Que tece novo acordo
E segue à beira do infinito
Manoel Olavo
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