Eu te vi partir e acho que era tarde.
Esse tormento contido, essa secura
Esse sorriso falso e desviante
Essa falta de escrúpulos morais.
Nova luta entre razão e desejo.
É preciso encarar, depois perdê-la.
A torneira goteja, sua face
Escorre nos canos do apartamento.
Será todo esse horror libertação?
Penso: por que fomos feitos assim?
Por que desse jeito? Esse desespero,
Esse afã, esse dom de habitar sonhos?
Corpo, alma, luz, sombra e a sensação
De estar dentro de mim à revelia,
Como um pássaro preso na armadilha,
Como um felino que perdeu as garras.
Louco de amor, prisioneiro da lógica
Atado a um mapa de repetições
Não sei porquê insisto em me mostrar:
Estou aqui, hoje menor do que antes.
Manoel Olavo
29 de abril de 2010
27 de abril de 2010
SONHO
Surreal, subtraída
A mente
Erra
Matéria flébil
Volúpia
Alada
O sonho conduz
Teu ser na
Brisa
Ao porto além
Do sonhador que
Vaga
Manoel Olavo
A mente
Erra
Matéria flébil
Volúpia
Alada
O sonho conduz
Teu ser na
Brisa
Ao porto além
Do sonhador que
Vaga
Manoel Olavo
24 de abril de 2010
TEU OLHAR
Como ter-te? Se prender-te
Impedir teu vôo livre
É ferir-te e não amar-te?
És como vento: tu partes.
Na verdade, acho que danças.
Solta no ar, bailarina
Vais por aqui, por ali
Entre o mar e o espelho d´água.
Não prender teu riso claro
Nem roubar teu sonho leve.
Deixar-te ir simplesmente.
Teu rosto está sempre adiante.
Chegas intensa e irreal
Como uma ninfa, uma ave.
Borboleta no ar, que
Sobrevoa, pousa e parte.
Nua em pelo, tu és linda
Como uma gazela dourada.
A um só tempo, cavaleira
E montaria. Tu és livre.
Teu olhar: um verde mar
Faiscando azuis e cinzas.
Teu olhar meio de lado.
Teu olhar, eternamente.
Manoel Olavo
23 de abril de 2010
POESIA
Espalha no papel
A angústia originária.
Constrói um mar de frases
Um arroio, uma tela
Onde a letra cintila
Em fogo brando até
O pensamento achar.
Poesia deve vir
Como libertação:
Verbo denso, maneira
De sonhar, de parar
O tempo e o deus da morte.
Poesia que escrevi
Imaginariamente
Sem culto ou irrisão.
Há mais na vastidão
Do que podes mostrar.
Manoel Olavo
20 de abril de 2010
UTI POSSIDETIS
Nós dois
Seremos mar
Além das gôndolas
Nadamos por vergéis
Baías claras e marés-cheias
Risco no céu
Mar que rodopia
Dois corcéis n´água
Um toque a
Sua pele reluz
Olhar que destila
Incrédulas sereias
Emoção de náufrago
Diante do oceano
O amor à solta
Nós dois
Cobertos de mar
Engolfando espumas
O penhasco
Derruba corais
No fundo transparente
Nós dois
Seremos mar
Além das gôndolas
Manoel Olavo
ASSIM É SE LHE PARECE
De uma peça de L. Pirandello
Não, as coisas não são
Como parecem ser
Não vale a palavra impressa
Nem a imagem em movimento
Não vale a exibição pública
Nem o ato de protesto
Até o corpo, a mais íntima
Matéria, torna-se falso
O que vem logo se perde
O que fica cedo parte
O que se tem não denota
Tudo é farsa à nossa volta
É preciso manter
Cada um na sua concha
Deve-se estar vazio
Atrás de um sentido
O gesto de amor
O nicho de paz
Nada disso conta
Nada disso importa
Nada é como aparenta
Assim é se lhe parece
Manoel Olavo
Não, as coisas não são
Como parecem ser
Não vale a palavra impressa
Nem a imagem em movimento
Não vale a exibição pública
Nem o ato de protesto
Até o corpo, a mais íntima
Matéria, torna-se falso
O que vem logo se perde
O que fica cedo parte
O que se tem não denota
Tudo é farsa à nossa volta
É preciso manter
Cada um na sua concha
Deve-se estar vazio
Atrás de um sentido
O gesto de amor
O nicho de paz
Nada disso conta
Nada disso importa
Nada é como aparenta
Assim é se lhe parece
Manoel Olavo
ANATOMIA
Eu era um
Você o outro
Do contrário amor
Que não nos quis
Dois beijos loucos
O gosto grená
Da sua greta
Foi só
Há casos assim
Meu pior
Pelo avesso
Duas almas más
Os destroços
Das nossas vidas
Você selenita
Sem nome nem paz
Somente imaginada
Eu marciano
Sem hora pra dormir
Nem maturidade
Juntos fizemos
A anatomia
Da nossa danação
Manoel Olavo
Você o outro
Do contrário amor
Que não nos quis
Dois beijos loucos
O gosto grená
Da sua greta
Foi só
Há casos assim
Meu pior
Pelo avesso
Duas almas más
Os destroços
Das nossas vidas
Você selenita
Sem nome nem paz
Somente imaginada
Eu marciano
Sem hora pra dormir
Nem maturidade
Juntos fizemos
A anatomia
Da nossa danação
Manoel Olavo
17 de abril de 2010
SAUDADE
Saudade? De quê?
De alguém, de um dia?
Da emoção, palavra?
Da plenitude
Nunca obtida?
Saudade? De quê?
E o que fazer contigo?
Menino nu
De olhar aflito
No espelho em
Que me parto?
O mar é um
E nele flutuamos
Você a sós
Múltiplo finito
Denso vestido de luz
Bem-vindo à sua pele
Saiba que existe
Um mar lá fora
A água lambe
A areia os seixos
As rocas
O atol das aves
O último mistério
Saudade? De quê?
De mim? De ti?
De ser?
Do que virá
e havia?
Manoel Olavo
De alguém, de um dia?
Da emoção, palavra?
Da plenitude
Nunca obtida?
Saudade? De quê?
E o que fazer contigo?
Menino nu
De olhar aflito
No espelho em
Que me parto?
O mar é um
E nele flutuamos
Você a sós
Múltiplo finito
Denso vestido de luz
Bem-vindo à sua pele
Saiba que existe
Um mar lá fora
A água lambe
A areia os seixos
As rocas
O atol das aves
O último mistério
Saudade? De quê?
De mim? De ti?
De ser?
Do que virá
e havia?
Manoel Olavo
GAIVOTAS SOBRE O MAR
Os passos vão e vem como gaivotas sobre o mar
A vida passa devagar enquanto a memória vaga.
A mais pura das emoções: amar-te – que foi feito dela?
Que fizemos nós com a ternura que agora é desencanto?
Por onde fomos quando havia abundante luz e o dia era claro?
Não se trata de chorar, contar os erros, é a natureza finita das
[coisas.
As emoções no momento certo, a vida que dispensa imitações
O ritmo dos fatos, corpos e sonhos como gaivotas sobre o mar.
A ferida aberta, a dor de estar aqui e de te amar um dia
Estará em nós como um jardim de cinzas: o baile não pára.
Sequioso de espaço e tempo, eu parto em busca da aurora
De um novo amor, que seja a sombra de uma árvore num deserto
[seco e impressentido
Manoel Olavo
4 de abril de 2010
SE TE SIGO
Se te sigo
(Isso eu faço
Há muito tempo)
É a mim que dispo
E defronto
Se te aguardo
É a mim
Que sigo
Enquanto sonho
Te despir
Sou quem anseia
Assim eu te vi
Perto de mim
Quando de longe
Te seguia
Manoel Olavo
(Isso eu faço
Há muito tempo)
É a mim que dispo
E defronto
Se te aguardo
É a mim
Que sigo
Enquanto sonho
Te despir
Sou quem anseia
Assim eu te vi
Perto de mim
Quando de longe
Te seguia
Manoel Olavo
TARDE DEMAIS
I
Tarde demais
Eu lhe disse
a verdade:
Não te amo
Não te quero mais!
Vou partir em meio à multidão
desconsolada
Na estreita e vaga luz que me constrange os órgãos
E pedirei reforços
Queimarei meus pés em betume e versos brancos
O prédio
O mar azul
Seu sorriso nunca antes adiado
Eu fatiarei as nuvens
Fritarei em óleo
a sua carne tenra
Convidarei velhos amigos
O olho estreito a rua lotada
A multidão à nossa volta
Gente revirando os restos
A face noturna do real
Sempre pedindo mais
II
Ainda penso em você
No calor dessa calçada antiga
O dia passa
Vem o ocaso do desejo
Traz mais uma vez
Memórias sem notícia
A noite vela
O corpo dela tão inocente
Um vidro fumê na alma
Os segredos
Em momentânea suspensão
Ah eu poderia ver
Como se fosse
Uma primeira vez
O que me importa
Poderia ver
Em lâminas
O acontecido
A hora impossível
O eclipse
Tão logo o sinal
De novo se fechasse
A multidão
Se detivesse
Tão logo a lua
Brilhando cores indistintas
Acelerasse a melodia
A trilha fugaz onde caminho
Tão logo despertasse
A besta-fera
Que há em nós
III
Vestígios:
Agora tudo deu errado
Agora
Inês é morta
A manhã segue como um féretro
Eu me calo
À beira da calçada antiga
Tento achar
a solução do enigma
a resposta
Tarde demais
Ela me deixa
O verbo encarnado
A face sem contorno
Assim como veio
Parte
IV
Entreaberto o peito
Restam as lágrimas
E outros fluidos corporais
Súbita estiagem
Na alma em chamas
Breve virá o construtor
V
Liberto das coisas
de sua constante antevisão
Desço ao fundo
de mim
e me recordo
Da medida avessa e crua
Porém minha
Do pintor das ruas
Do eleito dos ares
O bravo lutador
Um romance cheio de alegorias
Desço ao fundo de mim
me contemplo
me revejo ali
ao largo
Há pele suor corpo pêlos
Escotilhas que se fecham
Há uma medida avessa e crua
meio perdida
Porém minha
Nascida de turbulentas fundações
Matéria agridoce
Delírio verbal e agonia
Sei disso como sei dos
Passos duma pequena teodicéia
Que tece novo acordo
E segue à beira do infinito
Manoel Olavo
2 de abril de 2010
LARANJAIS
Peço licença para sentar do seu lado
E a cabeça reclinar suavemente
(O sonho está comigo, eu o carrego)
Meus olhos já viram morrer flor e Império
Meus olhos doem de dor e júbilo
Vêem cores cativantes, que partem...
Peço licença para lhe falar um pouco
Quem sabe ousar um canto, um tímido relato;
Eu quis andar a sós em nuvens de sono
E a argila do tempo veio e fez-se pedra.
Fez-se pedra viril, inconteste – e todos os amores
Vãos, os segredos inconfessáveis, todos eles...
Todos os enganos, os beijos negados...
As horas de adeus nunca previstas...
A ingratidão, o biscoito de polvilho
Sua alma, seu jardim, a inocência do pássaro
Os dias em que eu brincava de caubói
Os risos de manhã, os cabelos de franja
O gosto de jabuticaba, os seixos...
O rio, ah, o rio: engenho e artefato de tantas horas...
Muita coisa para lhe contar mas o dia já chega
Tudo está aqui, nosso coração secreto, uma paliçada
No entanto o tempo volta e nos carrega
E eu desabo hoje do seu lado, alheio
E vem este silêncio sobre laranjais ocultos.
Manoel Olavo
E a cabeça reclinar suavemente
(O sonho está comigo, eu o carrego)
Meus olhos já viram morrer flor e Império
Meus olhos doem de dor e júbilo
Vêem cores cativantes, que partem...
Peço licença para lhe falar um pouco
Quem sabe ousar um canto, um tímido relato;
Eu quis andar a sós em nuvens de sono
E a argila do tempo veio e fez-se pedra.
Fez-se pedra viril, inconteste – e todos os amores
Vãos, os segredos inconfessáveis, todos eles...
Todos os enganos, os beijos negados...
As horas de adeus nunca previstas...
A ingratidão, o biscoito de polvilho
Sua alma, seu jardim, a inocência do pássaro
Os dias em que eu brincava de caubói
Os risos de manhã, os cabelos de franja
O gosto de jabuticaba, os seixos...
O rio, ah, o rio: engenho e artefato de tantas horas...
Muita coisa para lhe contar mas o dia já chega
Tudo está aqui, nosso coração secreto, uma paliçada
No entanto o tempo volta e nos carrega
E eu desabo hoje do seu lado, alheio
E vem este silêncio sobre laranjais ocultos.
Manoel Olavo
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