1. As Águas
Misterioso é o mar
E cavas são as ondas:
Pêndulo das águas
Espumando crostas
Onde nasce a terra.
Paira sobre o mar,
Na visível face,
A centelha, o raio
De luz. Mais abaixo,
Espalham-se as águas.
O manto das águas
Cobre e molha a terra.
Camadas de azul
Formam céu inverso
Na paisagem líquida.
Pelas profundezas
Abissais se encontram
Náufragos, cometas,
Altas cordilheiras
E meu ser primeiro,
Úmido, viscoso,
Parte da paisagem
De águas geladas;
Grão, quiçá semente
Em solo marinho.
2. O Corpo
Estou de pé
Desperto
Fui lançado a terra
Pelo mar
Sou um conto
(Um corpo)
Em forma de homem
Ainda levo o mar
Dentro de mim
Sou uma ilha
Sem arquipélago
Um Odisseu
De mares sombrios
Meus sonhos morrem
Ao longo do dia
Busco o mar
Para revê-los
Embora haja
Amor em mim
Eu quero o mar
E seus presságios
3. A Partida
E entre muitos que os louvavam,
À beira do cais,
No dia de partida,
Houve um a quem
Não comoveram os hinos
E bandeiras coloridas.
Houve um cujo
Espírito soturno
Fez-lhe perceber
Que a hora verdadeira
Não se determina.
- A este, chamaram-no cético.
4. Os Filhos do Mar
Somos os filhos do mar
Seguimos nas naus lotadas
Em celas forradas
Com folhas-de-flandres
Atrás de eternidade
Mar adverso
Diminuta frota
Na qual vão doze
Velhos timoneiros
Mar de sargaços
Brisa do sol ao meio-dia
Mapa de desafios
O espírito do mar
Preso numa balsa
Manuseia seu compasso
A vida é estranha
E surpreendente
Nas ondas do mar
São algas-azuis
Corais sanguíneos
Mariscos, rochedos
Fractais
Eu sei de histórias e fatos improváveis
Mas me calo diante do mar
Da grandeza eterna do mar
Saibam todos
Que a maré sonhada não virá
Tampouco virão os argonautas
5. A Jornada
Gira o tempo
Somam-se rotas
Em ciclos de velas e dias.
O mar, de sol a sol
É uma pátria de espumas
Em que o coração flutua.
(Mas o porto não se avista...)
6. Os Sobreviventes
A bordo do barco
Vão os sobreviventes
Poetas regem o coro
Anjos guiam a nau
Ficaram anos
Parados na neblina
Cumprindo sua rota
Debaixo do sol
Os olhos da tripulação
Viram lutas desumanas
O leme, o mastro, a quilha
Trazem fundas cicatrizes
Foram todos consumidos
Por seu âmago, ó mar
Os males desta condição
Porém, são irrelevantes
Não importa haver paz
No coração dos navegantes
Maior do que eles é o mar
E toda a sua glória
Manoel Olavo
Misterioso é o mar
E cavas são as ondas:
Pêndulo das águas
Espumando crostas
Onde nasce a terra.
Paira sobre o mar,
Na visível face,
A centelha, o raio
De luz. Mais abaixo,
Espalham-se as águas.
O manto das águas
Cobre e molha a terra.
Camadas de azul
Formam céu inverso
Na paisagem líquida.
Pelas profundezas
Abissais se encontram
Náufragos, cometas,
Altas cordilheiras
E meu ser primeiro,
Úmido, viscoso,
Parte da paisagem
De águas geladas;
Grão, quiçá semente
Em solo marinho.
2. O Corpo
Estou de pé
Desperto
Fui lançado a terra
Pelo mar
Sou um conto
(Um corpo)
Em forma de homem
Ainda levo o mar
Dentro de mim
Sou uma ilha
Sem arquipélago
Um Odisseu
De mares sombrios
Meus sonhos morrem
Ao longo do dia
Busco o mar
Para revê-los
Embora haja
Amor em mim
Eu quero o mar
E seus presságios
3. A Partida
E entre muitos que os louvavam,
À beira do cais,
No dia de partida,
Houve um a quem
Não comoveram os hinos
E bandeiras coloridas.
Houve um cujo
Espírito soturno
Fez-lhe perceber
Que a hora verdadeira
Não se determina.
- A este, chamaram-no cético.
4. Os Filhos do Mar
Somos os filhos do mar
Seguimos nas naus lotadas
Em celas forradas
Com folhas-de-flandres
Atrás de eternidade
Mar adverso
Diminuta frota
Na qual vão doze
Velhos timoneiros
Mar de sargaços
Brisa do sol ao meio-dia
Mapa de desafios
O espírito do mar
Preso numa balsa
Manuseia seu compasso
A vida é estranha
E surpreendente
Nas ondas do mar
São algas-azuis
Corais sanguíneos
Mariscos, rochedos
Fractais
Eu sei de histórias e fatos improváveis
Mas me calo diante do mar
Da grandeza eterna do mar
Saibam todos
Que a maré sonhada não virá
Tampouco virão os argonautas
5. A Jornada
Gira o tempo
Somam-se rotas
Em ciclos de velas e dias.
O mar, de sol a sol
É uma pátria de espumas
Em que o coração flutua.
(Mas o porto não se avista...)
6. Os Sobreviventes
A bordo do barco
Vão os sobreviventes
Poetas regem o coro
Anjos guiam a nau
Ficaram anos
Parados na neblina
Cumprindo sua rota
Debaixo do sol
Os olhos da tripulação
Viram lutas desumanas
O leme, o mastro, a quilha
Trazem fundas cicatrizes
Foram todos consumidos
Por seu âmago, ó mar
Os males desta condição
Porém, são irrelevantes
Não importa haver paz
No coração dos navegantes
Maior do que eles é o mar
E toda a sua glória
Manoel Olavo
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