27 de setembro de 2011

LOGO VOCÊ

Logo você

Sem nada
Pra contar

Sem grana
Pra gastar

Sem verso
Pra dizer

Logo você

Sem mulher
Pra seduzir

Sem corpo
Pra destruir

Sem alma
Pra perder

Logo você

O último
Dos reis

Ou o primeiro
Dos párias

Num rastro
De lama

Feito besouro
Na bosta

Logo você

Não sabe mais
Do que gosta

Manoel Olavo

18 de setembro de 2011

VOCÊ ESTÁ SOZINHO



Ninguém ignora
A solidão acomodada
A dinamite moral do isolamento

Há dez anos
Eu vivo só
Como um infame
- O que não me incomoda

Amigos tentam consolar:
“Pois é... você está sozinho”.

Namoradas dizem pra eu
Não me esconder
E viver novamente.

Isto é: querem que eu
Me case com elas.

Contudo estou em paz
Com meus livros e a
Sujeira do passado.

A maré do tempo
Se acomoda
Como sempre

E a presença da morte
É a mesma
Esteja eu só
Ou acompanhado.

Manoel Olavo

16 de setembro de 2011

SILÊNCIO


Não há mapa. No entanto, em tudo
Estava a procura de um lar,
A lembrança da primeira casa.

Apolo em seu carro
Queria a vertigem do ser, o céu de asa
Flamejante, o sol, a porta sem aldrava.

Sonhava união mas nada veio.
Luz excessiva na manhã.
Voo cego. Cristal partido.

Ouça-me: se existe um lar
Ele não está nas coisas.
Impossível romper o véu
Que separa os seres.

Não é conceito
Nem condenação:
É apenas silêncio.

Manoel Olavo

14 de setembro de 2011

OUTONO

São caminhos possíveis
Da folha solta no vento

São desfechos possíveis
Da palavra no silêncio

A folha toca a densidade
Da palavra: pluma na boca

Sua nudez, sua falta,
Seu véu de intimidade

Outono perene de quem,
Em silêncio, desaparece

Manoel Olavo

13 de setembro de 2011

PÁSSAROS TELEPÁTICOS

Deixar a casa
Bem arrumada

Levar o carro
Pelo chão dos mortos

Sobre o vão central da ponte
O susto de rever
Pássaros telepáticos
Dizendo segredos

O céu é um
Vórtice partido

Voar no risco cortado
No mar azul do céu

Toda plumagem
É aparente

Há paz entre os viventes
Nos portais e jardins de Osteon

O ser alado
Se desfaz
Na linha
Do horizonte


Manoel Olavo

ESPAÇO

E no meio desse caos, dessa ventania, ainda havia espaço para a ternura e o silêncio de uma solidão desenterrada...

Manoel Olavo

10 de setembro de 2011

UM POEMA BREVE


Um poema breve
Um lema

Uma afronta
À calma da palavra

Tua mão pequena
Puxa a ponta da toalha
E derruba a mesa

Você grita: chega!
- A sobrancelha levantada

Manoel Olavo

4 de setembro de 2011

AMANHECER


Olhei a praça
Quando a luz
Descortinava
Uma manhã
Clara e aturdida

Pude nascer
Junto do vento
Que em tudo
Soprava morno

Vi a paisagem
Que acordava
Viva e sonora

Cães passeando
Com seus donos
Ao raiar do dia

Meu coração
Flagrou a luz
E se sentiu
Em muitos

Estava dentro
E estava fora
Da manhã de sol
Que ali nascia

Manoel Olavo

2 de setembro de 2011

INVENTO PRA VOCÊ



Invento pra você uma ternura
                           [escondida
Feita de poesia e fragmentos

Deixo a ternura derramada
Pra quem desfruta mel e pranto

Pra você, amada, dou-lhe
Água, grão e sonho

Dou-lhe riso e limo
E vermes arejando a terra

Mas com você, amada
Porque seus olhos são fêmeos

A ternura se recolhe
Às conjugações do medo

E, assim inocentes
Nós dois caminhamos

Entre mortos, vivos
E desaparecidos

No cara a cara
De um duplo abismo

Juntando os cacos
E as nossas vidas

Manoel Olavo

POEMA VERMELHO



sangue da fruta vermelha

rubro canto de guerra

lábio coração amora

Carmen carmim boca de cena

dressed to kill rubi hemorragia

paixão falésia Roma extinta

na rubra cor da carne e ira


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...