3 de julho de 2011

MUSA ENTRE PAREDES



Esforço de autor
Afinal vencido
Abandona exausto
O teu corpo alhures
E o poema despe-se.

No entanto, voltas.
Vasta e desigual
É tua medida.
A lira incompleta
Noite afora ecoa.

Fascinante enigma
Ainda persiste.
As chamas se elevam.
Som de madressilva
Toca enquanto danças.

Bailarina hipnótica,
Par de olhos rútilos,
Tez mutante, naja
De dedos em riste:
É triste te amar.

Estilete na alma,
Pés sobre o abismo:
Vem de ti o signo
Corrosivo, atroz
De amantes na forca.

Trilhas bifurcadas,
Luz, céu, raio, túmulo,
Primícias constantes,
Ou talvez eu mesmo
Em fêmea tornado.

Esboço de amor,
De morte ou de fuga
Consentida, teu
Seio me oferece
Dor, abismo e cio.

Assim vais, desenho
Vago entre paredes:
Ziguezagueando
Através das pedras
De muros sem fim.

Criatura tênue,
Atravessa sólidos,
Passa por paredes,
Rompe celas que
Fiz mas esqueci.

Em meio aos escombros
Sorris e dos lábios
Leve brisa sopra.
Hoje, desatino.
Amanhã, silêncio.

Leva-me daqui,
Musa decomposta,
Num leito de rio
Vital onde minha
Alma sem ti sofre.

Despudor de ser
Fraco e ter perdido
Os tempos, os dias,
As vidas passadas,
Os amores últimos.

Pois musa te chamas:
A pintura eterna
Recriou teu mundo
E em questão de horas
Ele adormeceu.

Manoel Olavo

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