Então, ele se recostou na montanha
Chorou os filhos que não nasceram
As sementes que não germinaram
As páginas e páginas escritas
Na linguagem maldita dos afetos
No ajuste de letras e palavras
Reunidas como sinais de mágoa.
Então, ele aceitou a longa espera
Se ambientou por entre os mortos
Umedeceu os lábios de pavor e sede
E se viu bailar aos rodopios nas
Entranhas consagradas ao último dia
Enquanto insetos e o luzir de astros
Tingiam de prata o arco celestial.
Então, como lhe restasse alguma sorte
Fingiu-se distraído e, de um só golpe,
Capturou as vozes que espreitavam o incerto
Que invocavam sonhos, manipulavam corpos
Ensinando um jeito novo de domar as trevas.
Longe demais, sem ele, a canção do tempo
Não se fez calada, nem expressa: apenas ruiu.
Então, num lampejo ele se pôs de rastros
Mero estilhaço das visões alheias
Longe das paixões e cismas de sua aldeia
Sem saber por que tanta aflição havia
Nos que lá moravam: os dóceis, os que não
Sabem entender, nem entram na neblina
Onde ruge indômita a desordem
Colossal do Reinado de Mercúrio.
Então, um silêncio hierático caiu sobre
Os passantes, sobre a humanidade inteira.
Ele viu, claro demais, as palavras
Soarem densas, o tempo escorrendo
Por suas mãos, os dedos trêmulos
E longos tocarem a maciez das horas
O recesso das coisas, a tessitura do universo
O olho, o centro, o âmago do Mistério.
Então, se fez profunda a dor em seu olhar
Que antes era terno. E o silêncio das
Horas perguntou de onde lhe vinha
Tanto desalento, tanta perdida sonoridade
Tanto desprezo pelas coisas do homem
E da vida que, indiferente a este fato,
Jorrava farta e se alastrava na agonia
Dos sobreviventes da felicidade.
E isto foi tudo:
Era só um frágil passageiro
De um tempo em que pareceu
Haver sinais...
Manoel Olavo
23 de março de 2010
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