31 de maio de 2010

POEMA VERDE






VERDE:

VERDE POR COMPLETO


NA COR DE

VEGETAL E QUARTZO


VERDE: A ESMERALDA

PRENHE DE LUZ

BRILHA NO DESERTO


REFÉM DO ESPAÇO

E TEMPO, SEU ENCANTO

É PARA SEMPRE VERDE



Manoel Olavo

30 de maio de 2010

ELA SORRI SONHANDO MARES

Seu rosto contra a brisa

Doura-se ao sol

E o dia será nada.

Ventania.

Lentos madrigais.

Ao longe, uma melodia.

A sórdida manhã

Repousa nos lábios dela.

Ela sorri

Decerto sonhando mares.

O ciúme é o pior

Dos sentimentos

Mas todos comovidos

Choram.

Ainda cedo

Eles recomeçam.

Pouco irá sobrar

Para os saqueadores.


Manoel Olavo

27 de maio de 2010

CACHOEIRA




Sob um céu
Espesso e rude
Desfiz os olhos
E me lembrei
Da infância

Fiz mais:
Lembrei da
Cachoeira

Fonte do alto
Batendo o
Corpo duro
Das pedras

Azul e luz
Frio vapor
De água
Cobrindo
O sol

A coluna líquida como
Um mastro de cristal

Minha alma
Fluindo
Pelos séculos
Sob as águas

Cachoeira:
Eu quis tê-la
Mas só pude lembrá-la

Meu Deus: será que as memórias morrem?

Manoel Olavo

TALVEZ

Escuta. Deixa eu te dizer mais claramente. É verdade que te amo. Que penso em você todo o tempo. Que antes de você chegar, eu estava aflito, o mundo exibia o medo irreal dos pesadelos, daqueles em que a gente não consegue acordar, porque você não vinha. Você me vê como um farol ao longe, a luz que vem do teu olhar não me revela, me reúne. Mas talvez não seja isso. Talvez você não tenha vindo. Talvez eu te fantasie, te invente, e você pareça ser assim só nos meus sonhos. Eu te procurava e, por não te achar, acabei te inventando. Eu posso agir assim, sou um amador na rota dos amores. Talvez você seja banal, ressentida, igual às outras, mas eu não vejo assim, ah, meu amor, não me deixe ver assim, eu não posso, não quero ver o que meus medos insinuam, prefiro me atirar sobre teu corpo e mergulhar no mar azul e colossal que cerca nossos sonhos.

Manoel Olavo

9 de maio de 2010

POEIRA E ESFINGES

Por ora fica adiada a primavera
Fica suspenso o espetáculo

Não colherá jamais
Indestrutível rosa

Não suportará tanta
Balbúrdia e lágrimas

Que espera você das coisas
Se elas desmancham ao toque das mãos?

Se elas pendem indiferentes
E se quebram como vidro?

É preciso agir de outro jeito
Pensar numa nova ordem

A natureza tece tramas desiguais
E seus olhos vêem cores primárias

A mão do mal pousa do seu lado
Mas você nem ao menos percebe

Como um ser tão imperfeitamente formado
Deseja flutuar por nuvens à deriva?

Ah vida, que aqui desemboca
A sua dor entre coortes

Ah paz, caminho que deságua
A sua febre sem remorso

Seu mapa de ruínas
Seu juízo torto de atos cometidos

Ah você, que só vê
Poeira e esfinges

Qualquer instante de luz
Será inútil e indecifrável

Lúcifer disfarça
Ser o preferido de Deus


Manoel Olavo

A POESIA VEM



O desejo de amar em nós se esconde
E assume outras formas: fome, ódio,
Males, vícios, vontade de voar
Ou de ser ave. Dirá você:
A vida é breve e nada sabemos
Dos mistérios da alma, da natureza corporal
(a matéria tensa existe algum tempo
em alternância de sono e de vigília).
De nós irão restar palavras e edifícios
Pois tudo se desfaz, se reparte e morre,
Na escala infinita da qual você faz parte.
A poesia vem, no fim das contas,
Buscar azuis nas noites sem saída.

Manoel Olavo

A LINDA MULHER

A linda mulher
Percorre a aléia
Crivada de pedras

Em seu olhar
Ofício de lava
Fastio sensual

A mais bela
Figura viva
Ri-se ao voar

Não me iluda
Ó tela de sombras
É hora de acabar

De buscar aquela
Que ainda dança quando
Todos vão sonhar

Arranchada na aldeia
Cercada de árvores
A morte vencerá

Nada dirá
Despida e muda
Num mar de luz gelada

Magia de avistar
E beijar o selo de
Cetim em sua nuca

Manoel Olavo

2 de maio de 2010

JANELA DO AR




Janela do ar
Recinto fechado

O dia é a tela
Seu retrato é luz

Matriz que floresce
No chão sideral

Vinda de outro céu
Além do visível

Mantém-se um minuto
Claridade em mim

Sou fruto do sonho
De uma vida alheia

De um sopro distante
No escuro da noite

Aguardo o desfecho
Entre o sol e o caos


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...