Antes de morrer
Rejuvenesça!
Inato, ligeiro
Seja sempre seu
O primeiro sonho.
De nós, se esperam
As maravilhas
Um mar de ilhas
Um norte, um sol
Que não se apaga.
Não esta pálida
Lua amarga.
Manoel Olavo
14 de novembro de 2017
19 de junho de 2017
ILHA
Tivéssemos
Chegado
Cedo à ilha
Que se
Afasta
Veríamos
A face
Da palavra
Na folha
De papel
Lugar onde
Os mitos
Se erguem
Sobre um mar
De letras
Manoel Olavo
6 de junho de 2017
MAGNIFICAT
Vinha uma canção
Em meus ouvidos
Quando estavas comigo
E tudo se escutava
Por mais de mil anos
Um canto se preparava
Um toque no silêncio
Um pouso na madrugada
Qualquer lugar é longe
Qualquer lugar é pouco
Enquanto te espero canto
Na eternidade adentro
Manoel Olavo
AS COISAS
As coisas que eu vou dizer
Irão voltar - não importa-
Como um antigo querer
De passagem bate à porta
As coisas ditas por mim
São como espelhos quebráveis
Começos antes do fim
Esboços intermináveis
As coisas que eu vou dizer
Noves fora seu lamento
Me fazem sobreviver
Nesta rajada de vento
As coisas ditas por mim
São altas ilhas remotas
De mares que contravim
Num barco de velas rotas
As coisas que eu vou dizer
Surgem com força tamanha
Que fazem alvorecer
As coisas ditas por mim
Sumário de língua morta
Silenciaram por fim
Palavras rondando a porta
Manoel Olavo
19 de fevereiro de 2017
VENTO
Como um vento
A roçar de leve
Vem teu nome
Me dizer assombros
Como um sinal
Um súbito raiar
De claro-escuro
O espanto de
Ver que lá fora
Já é de manhã
Estive demais
Em tudo, entrei
No coração das coisas
Agora é silêncio
Outono de amor
E espelhos quebrados
O resto é luz, fendas
Cansaço de viver
E uma imensa
Obscuridade
Branca
Manoel Olavo
8 de fevereiro de 2017
UM ESPELHO IMERSO EM SUAS ÁGUAS
I
Assalto
do primeiro
Amor,
primeiro gosto
De
beijo, primeiro gesto
De
estremecimento
II
Minha
alma estropiada
Consegue ver o sol
Desfocado na retina
Na linha interligada
III
Por
que querer-te assim
Com tanta precisão de
Toques
e sentidos? Por que
Sair do mundo das palavras
IV
E
percorrer saliências
Medidas sulcos sibilas
Onde
tudo é corpo
E
nada é acontecimento?
V
Contigo desperto e alcanço
Palavras
que a língua não enlaça
Aliança
de iguais e de contrários
Um
espelho imerso em suas águas
Manoel Olavo
2 de fevereiro de 2017
SIGNOS VOLÁTEIS
A diferença entre o existir e a lenda.
Podemos vencer, cruzar o abismo,
Ir onde as nuvens se desfazem.
O dia inteiro, do alto, virão
Águias e relíquias do vazio.
Contudo, persiste a mesma falta,
O vazio da forma protraída,
A espessura irregular com que o mundo
Se apresenta. Apesar do esforço, o cerne
Não se sente. De noite, tudo escapa
Entre seus dedos que não conseguem
Tirar o véu das coisas aparentes.
Como suportar o espelho que distorce?
Até o sonhado amor que vai contigo,
Pintado com cores imaginárias,
Pintado com cores imaginárias,
O fervilhar de vozes e lembranças
Revividas, tudo isso cessa e se cala.
O que existe é um esforço pra ficar
Dentro de si mesmo, nu, elegíaco,
Mantendo as fibras tensas sob a pele,
Criando matéria com signos voláteis.
Manoel Olavo
Manoel Olavo
25 de janeiro de 2017
ESPELHO
Na cidade
No tumulto
O que me falta
É um espelho
Ver, dentro
Dele, o outro
Não este opaco
Olho de túmulo
Manoel Olavo
10 de janeiro de 2017
CALMARIA
Sem ti eu trovejei
Por noites de cristal
Fiz bobagem à beça
Tomei veneno
Cortei os pulsos
Dei trabalho aos amigos
Perdi até as calças
Quis viver em claustros
Eliminar instintos
- O coração plantado sob a terra –
Bem feito, coração!
Quem mandou?
Agora, esse Oceano Pacífico
Essa calmaria
Esse tom de mar
E nostalgia
Onde? Em seu olhar, é claro...
Em seu olhar
Elemental como uma fada
Como um artefato um alaúde
Que fica além além
Da breve bruma
Que tal brisa leve
Manoel Olavo
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