Jamais ele tocou
Mas bem conhece
O balcão das cinzas
A voragem das horas
O ouro em pó
Os fenômenos naturais desenfreados
As esculturas imóveis
O prumo que vai e volta
A poeira cobrindo os corpos petrificados
Ameias e colunas guardam a rua
Protegem os passos lentos
De arroubos juvenis durante a caminhada
Caem flechas parecendo gotas
A cabeça no cepo
O elmo o carrasco
No entanto
Ele se move
Por trás de tudo
O caminho
(Ritmo único)
Ubíquo signo
Que ele não imaginava
E sequer tocou
Jamais tocou
Mas bem conhece
Logo
Abaixo
Ela pende
E reverbera
Ela: a intocada
Manoel Olavo
29 de abril de 2012
27 de abril de 2012
TODO ESSE SILÊNCIO
Todo esse silêncio guardado em
mim
Borbulha sob a crosta e, dentro,
esmaga
Cada ponto sólido da rocha.
Todo esse silêncio guardado em
mim
Agita-se e revira minha alma.
Todo esse silêncio solapa a calma
Aparente do quartzo que desmancha
No magma. Fornalha de sol, muda
A ordem natural com sua obra.
Pedra que desaba e sangra na boca.
A ordem natural com sua obra.
Pedra que desaba e sangra na boca.
Fogo que lambe e prefigura a lava.
Palavra conhecendo a erupção.
Palavra conhecendo a erupção.
Manoel Olavo
22 de abril de 2012
FLOR
Meu encoberto jardim
Minha paixão meu ardil
Meu remanso de noites ocultas?
Não vi que estavas do meu lado
Até teu nome chegar pelas raízes
E florescer em mim
Como flor encravada na pedra.
Amor, amor
Eu te descubro
Farta planta cor de verde
E busco teus indícios
Na ramagem.
Te sigo como quem
Caminha nas montanhas
Atrás da improvável
Flor de carne
De pétalas douradas.
Visão que paralisa
Meu olhar de explorador
Cansado no outono de uma vida
[sem amores
Que desconhece
Tua beleza cor de flora.
Amor, eu te surpreendo pênsil
Acima de todas
Rainha sem igual
Entre as flores fêmeas.
Manoel Olavo
Visão que paralisa
Meu olhar de explorador
Cansado no outono de uma vida
[sem amores
Que desconhece
Tua beleza cor de flora.
Amor, eu te surpreendo pênsil
Acima de todas
Rainha sem igual
Entre as flores fêmeas.
Manoel Olavo
17 de abril de 2012
OLHAR DE LÂMINA
Não sei se isso existe:
Um olhar de lâmina.
Caso não exista
Invento pra você.
Não sei se houve tempo
De acender a luz
Dizer eu te amo
Como deve ser.
Tentei ir pra longe.
Junto a mim, meu fado
Ia, me trazendo
De volta a você.
É mais do que amor,
Que o vento do mar
Logo desarruma.
É matéria una,
Única utopia,
Nova captura
De corpos unidos
Na concepção.
Haja o que houver
Saberei agir
Para merecer
Seu olhar de lâmina.
Manoel Olavo
Um olhar de lâmina.
Caso não exista
Invento pra você.
Não sei se houve tempo
De acender a luz
Dizer eu te amo
Como deve ser.
Tentei ir pra longe.
Junto a mim, meu fado
Ia, me trazendo
De volta a você.
É mais do que amor,
Que o vento do mar
Logo desarruma.
É matéria una,
Única utopia,
Nova captura
De corpos unidos
Na concepção.
Haja o que houver
Saberei agir
Para merecer
Seu olhar de lâmina.
Manoel Olavo
15 de abril de 2012
GAIVOTA
UM FUNDO AZUL
UM TRAÇO EM CURVA
UM OUTRO TRAÇO
ESPECULAR
NÓS DOIS UNIDOS
OU UMA GAIVOTA
NO AR?
12 de abril de 2012
UMA CANÇÃO DE AMOR
Velhos casos de amor, encontros adiados.
Sonhos de salvação, medos, expectativas.
Desejos comuns se arrastando pelas valas.
E valores diferentes! Sim, nós dois os temos.
Somos produtos sociais de tempos de crise.
Filhos de gente não recomendável, seres fronteiriços.
O ódio e a ilusão são o alimento farto em nossas vidas,
Na dor de existir e querer gozar em dobro.
Pois haverá choro e ranger de dentes.
Nossa língua falará sem dizer nada,
Sem se mostrar de fato.
Um arqueiro cairá morto sobre a casa.
Os deuses se cobrirão de ouro, com luvas de pelica.
Nós dois seremos despedaçados.
Há uma avenida de corações partidos entre nós
E muita gente feliz vivendo junta.
Há bem mais do que isso, mas a verborragia romântica
Às vezes cansa. E não é lícito comparar paixões,
Odores, climas, mucosas.
Não é lícito forjar mentalidades.
Tantas noites eu saí por aí,
Se você soubesse, e mendiguei afagos.
Tantas noites eu fui doido, feroz, autoindulgente.
Agora, não, eu canto de madrugada.
E o meu lamento soa no terreiro
Enquanto não brilham as luzes da Broadway.
Manoel Olavo
10 de abril de 2012
ANDARILHO
Um erro ancestral
Prende os meus pés à terra
Andarilho
À cata do que não vê
Adiante
O sol poente
O tempo
E o peso das palavras
Com que tento me salvar
Manoel Olavo
7 de abril de 2012
PERDI A HORA
Perdi a hora
Não dá pé
Me deu medo
A cidade
Tomba
O quarto
Roda
A semana
Passa
Tudo está em mim
Como tela
Mas estou ausente
O tempo
De esperar
Passou
Manoel Olavo
1 de abril de 2012
CALMARIA
Sem ti eu trovejei
Por noites de cristal
Fiz bobagem à beça
Tomei veneno
Cortei os pulsos
Dei trabalho aos amigos
Perdi até as calças
Quis viver em claustros
Eliminar instintos
- O coração plantado sob a terra -
Bem feito, coração!
Quem mandou?
Agora, esse oceano Pacífico
Essa calmaria
Esse tom de mar
E nostalgia
Onde? Em seu olhar, é claro...
Por noites de cristal
Fiz bobagem à beça
Tomei veneno
Cortei os pulsos
Dei trabalho aos amigos
Perdi até as calças
Quis viver em claustros
Eliminar instintos
- O coração plantado sob a terra -
Bem feito, coração!
Quem mandou?
Agora, esse oceano Pacífico
Essa calmaria
Esse tom de mar
E nostalgia
Onde? Em seu olhar, é claro...
Em seu olhar:
Elemental como uma fada
Como um artefato, um alaúde
Que fica além além
Da breve bruma
Que tal brisa leve
Manoel Olavo
Elemental como uma fada
Como um artefato, um alaúde
Que fica além além
Da breve bruma
Que tal brisa leve
Manoel Olavo
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