Mar
Numa palavra
A armada se arrisca
Por cima do papel
Cruzando a fronteira
Um barco
Corta o vai-e-vem
Das velas latinas
O desenho
Da esquadra
Cresce no
Horizonte
Sabe você de onde vem o mar?
De onde partiu o navegante?
Sabe por que batem as ondas
Contra o cais das naus envelhecidas?
O manto de vapor
Encobre águas poderosas
Efeito da carne dividida
Entre a dimensão do mar
E a vontade de queimar numa pira ígnea
Chamas que vão para o alto
Além do ponto onde está a sentinela
Silenciar, calar a própria voz
Conter num lugar comum
O sopro da fala
Mas ela é súbita
É limite sonoro
Cala a todos que tentam
Desvendá-la, sem dizer
Por qual desvão escapa
Nem só de mar
Nem só de pira
Vive o homem
Ninguém
Fica comigo
Em busca de
Som e fúria
Na hora agá
Eu me desfaço
E morro, chama
Ígnea, pira na
Rota dos astros
Mas havia alguém
Havia alguém lá
Que me chamava
Homem é esse
Frágil cordão de fala
Manoel Olavo
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