29 de janeiro de 2011

SIGNOS VOLÁTEIS

A página em branco é sua mortalha.
A diferença entre o existir e a lenda.
Podemos vencer, cruzar o limite
Da montanha, passar sobre o abismo
Ir até onde as nuvens se desfazem.
O dia inteiro, do alto, virão
As águias e as relíquias do vazio.
Contudo ainda persiste a mesma falta
De liberdade, a forma protraída,
A espessura irregular com que o mundo
Se apresenta. Apesar do esforço, o cerne
Não se oferece. Ao anoitecer, tudo
Escapa dos dedos que mal suportam
Erguer o véu das coisas conhecidas.
Como aturar o espelho que distorce?
Até o suposto amor que vai contigo,
O fervilhar de vozes e lembranças
Renascidas, tudo cessa e se cala.
O que existe é um esforço pra ficar
Dentro de si mesmo, nu, elegíaco
Mantendo as fibras juntas sob a pele
Criando matéria com signos voláteis.

Manoel Olavo

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