Cansado de dormir e de acordar
Sonhando-te, meu jugo e aspereza
Que verso há de cantar o que queremos?
Não pude te tocar, amor, não pude
Não pude ser nem pássaro nem pluma
Não pude ser nem sândalo nem chuva
Por que sopras assim, ó brisa ambígua?
Acostumada estás a natureza
A refletir a sós entre os pinheiros
A dominar dragões sobre as escarpas
A ler no vendaval no fim do dia
Difusas folhas brancas que tracejam
Escritas formas vagas de desejo
E modos de não ser somente minha
Tu és embriaguez sobre meu dorso
Vinhedo na estação de luz e sombra
Cintilam em mim partículas de canto
Um anjo há de pairar sobre a calçada
Saudade é despertar vendo-te morta
Se não fosse perder a protegida
Se não guardasse Orfeu a antiga forma
Perdíamos de vez a voz e a lira
Sonhar, mais que viver - eis o que somos.
Manoel Olavo
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