28 de novembro de 2020

POEIRA E ESFINGES

Por ora fica adiada a primavera 

Fica suspenso o espetáculo 


 Não colherá jamais 

A indestrutível rosa 


 Não suportará tanta 

Tortura e lágrimas 


 Que espera você das coisas 

Se elas desmancham ao toque das mãos? 


 Se elas pendem indiferentes 

E se quebram como vidro? 


É preciso agir de outro jeito 

Pensar uma nova ordem 


A natureza tece tramas desiguais 

E seus olhos veem cores primárias 


 A mão do mal pousa do seu lado 

Mas você nem ao menos percebe 


 Como um ser tão imperfeitamente formado 

Deseja flutuar por nuvens à deriva? 


A vida aqui desembarca 

Sua dor entre coortes 


A paz é o caminho que aplaca 

Sua febre sem remorso 


 Seu mapa de ruínas 

Seu juízo torto de erros cometidos 


E pra você, que só vê 

Poeira e esfinges 


 Qualquer instante de luz 

Será inútil e indecifrável 


 Lúcifer disfarça 

Ser o preferido de Deus 


 Manoel Olavo

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