2 de dezembro de 2019

VIGÍLIA

Ele caminhava pela estrada
A duras penas.
Longe, o ponto de chegada
Estava além de onde se avista.
Em sua direção vinham
Putas, ladrões, contrabandistas,
Viúvas abissais de costas nuas,
Guardas-civis, coachs, youtubers, heróis.
Conforme caminhava, e ia,
Mais longe
Aquilo se tornava.
Não, não é bastante caminhar.
É preciso mais.
É preciso pedir ajuda para que não chova,
É preciso ter alguma companhia,
É preciso sorrir para os passantes,
Ficar de pé, rabiscar uma pedra,
Enfrentar mudanças climáticas.
É preciso partir, partir sempre.
Fazer laços e rompê-los.
É preciso se bastar quando se está exausto,
Derrotado, farto de tudo,
Quando o sol calcina
E não resta um único consolo.
Ele caminhava pela estrada
A duras penas.
A cada passo dado,
O ponto de chegada
Mais longe ficava.
(A proximidade afasta
A hora prometida).
No entanto,
A um possível encontro seu,
Uma tímida esperança florescia.

Manoel Olavo

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