19 de fevereiro de 2017

VENTO




Como um vento
A roçar de leve
Vem teu nome
Me dizer assombros

Como um sinal
Um súbito raiar
De claro-escuro

O espanto de
Ver que lá fora
Já é de manhã

Estive demais
Em tudo, entrei
No coração das coisas

Agora é silêncio
Outono de amor
E espelhos quebrados

O resto é luz, fendas
Cansaço de viver
E uma imensa
Obscuridade
Branca

Manoel Olavo


8 de fevereiro de 2017

UM ESPELHO IMERSO EM SUAS ÁGUAS



               I

Assalto do primeiro
Amor, primeiro gosto
De beijo, primeiro gesto
De estremecimento

               II

Minha alma estropiada
Consegue ver o sol
Desfocado na retina
Na linha interligada

               III

Por que querer-te assim
Com tanta precisão de
Toques e sentidos? Por que
Sair do mundo das palavras

               IV

E percorrer saliências
Medidas sulcos sibilas
Onde tudo é corpo
E nada é acontecimento?

                V

Contigo desperto e alcanço
Palavras que a língua não enlaça
Aliança de iguais e de contrários
Um espelho imerso em suas águas


Manoel Olavo

2 de fevereiro de 2017

SIGNOS VOLÁTEIS



A página em branco é sua mortalha.
A diferença entre o existir e a lenda.
Podemos vencer, cruzar o abismo,
Ir onde as nuvens se desfazem.
O dia inteiro, do alto, virão
Águias e relíquias do vazio.
Contudo, persiste a mesma falta, 
O vazio da forma protraída,
A espessura irregular com que o mundo
Se apresenta. Apesar do esforço, o cerne
Não se sente. De noite, tudo escapa
Entre seus dedos que não conseguem
Tirar o véu das coisas aparentes.
Como suportar o espelho que distorce?
Até o sonhado amor que vai contigo,
Pintado com cores imaginárias,
O fervilhar de vozes e lembranças
Revividas, tudo isso cessa e se cala.
O que existe é um esforço pra ficar
Dentro de si mesmo, nu, elegíaco,
Mantendo as fibras tensas sob a pele,
Criando matéria com signos voláteis.

Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...