30 de junho de 2016

FÁBULA



Enquanto existir a falha
Que se transforme em fábula

Enquanto partir a revoada
Haja rumor nas coisas despertadas

Rumor nas coisas, todas elas
Sussurrando entre fachadas

Transitam matéria e tempo
No golfo cheio de palavras

Gelado mar parte a galope
Por reflexos de prata

A memória de pé, glória amputada
Desabitada ilha, estreito, vaga

Nas lendas do território
O mesmo sol condena e salva

Enquanto eu morro lentamente
No silêncio da noite soletrada

Fale-me do mar, do gosto da
Frase evocada, do sopro de ar

Ocupe a palavra reduzida, densa
Faca contra faca, lata cortando lata

A brasa, a gota, o ritmo da fala
O nome sujo, o anjo sem asa

A palavra advinda, contradita
Cortada à navalha até ser nada

Além daqui é o traço que separa
Édipo da Esfinge, ou de Jocasta


Manoel Olavo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...