29 de outubro de 2015

INVENTO PRA VOCÊ



Invento pra você uma ternura
                                  [escondida
Feita de poesia e cacos

Deixo a ternura derramada
Pra quem desfruta mel e pranto

Pra você, amada, dou-lhe
Água, grão e sonho

Dou-lhe riso e limo
E vermes arejando a terra

Mas com você, amada
Porque seus olhos são fêmeos

A ternura se recolhe
Às minhas conjugações do medo

E, assim inocentes
Nós dois caminhamos

Entre mortos, vivos
E desaparecidos

No cara a cara
De um duplo abismo

Juntando fragmentos
E as nossas vidas


Manoel Olavo

11 de setembro de 2015

MANHÃ DILACERADA


Aprende-se bastante vendo uma manhã dilacerada
Cortada em partes desiguais, a teus pés caída
Contei centenas de pedaços diminutos

Triste, doloroso espetáculo

Melhor ficar para sempre
Perdida entre os reinóis
Esta lembrança

Manoel Olavo

10 de setembro de 2015

NO MORE BLUES




Exausto, eu volto ao banal
Ao encargo das palavras
Ao manancial de coisas mal
                        [resolvidas
No mar azul em que me afundo

É preciso viver a vida
(isto é, o pouco que me resta)
Desfrutá-la como
Gente equilibrada

Este sofrimento banal
Este incêndio de gestos
                    [e passos

Não se iluda: esvaziar-se
É pior do que perverter-se

Quem dera
Eu te amasse com ardor
Guiasse a tua alma
Sem nenhum mistério

Quem dera afundássemos
Os dois juntos, embaralhados,
Num mar turquesa,
Não mais azul
No
        more
                 blues


Manoel Olavo

30 de julho de 2015

ESCUTA

Ao teu redor
Eu venho voando
Como um pássaro
Em torno da lira
Como um vento
Que sopra à ilharga

Beleza demais
Da tua verde luz
Do teu verbo raro
Do beijo com sabor
De mares consagrados

Escuta:
Não há mistério algum
Há o segredo de te amar
E adormecer calado...

Manoel Olavo

24 de julho de 2015

POMBO


O pombo
voa na
chuva fria

Sua asa toca a
janela de vidro
faz um ruído

vivo, o pombo
me convoca
à chuva fria

mito todo
poderoso, ave
a meu dispor

absorto nas
penas de um
único poema


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...