9 de abril de 2014

SEU NOME

Nesse temporal
Seu nome é diagrama.

É um pó de letras
Na inundação.

Eu não vou dizê-lo.
Não quero trazer

Seu nome secreto
De volta dos escombros.

Mas são partículas
Sílabas fonemas

Rimas de amor
Cercando o cais destroçado

O que restou de um
Naufrágio de avessos.

A água (se um dia evaporar-se)
Deixará seu nome mineral

Em insolentes camadas;
Finalmente, feito pedra.

Manoel Olavo

4 de abril de 2014

EU OLHAVA MAS NÃO VIA


          I

Eu olhava
      Mas não via

      Esse punhal
      Essa dissipação

A interseção na ordem geral das coisas
       A repetição de ciclos
                   No movimento dos dias

A máquina
A ferrugem
Seu pó e suor

Eu olhava
      Mas não via

           II

Antes não havia
    Essa colisão na margem do crepúsculo
             Esse corpo infestado de cristais

Angélicos vagabundos voando sobre as palafitas
     
      A decomposição
             Na moenda dos dias

         A carne do rio
               A pedra

Sua mão oculta me tocando em feéricas faíscas
       
         A circunvolução
                 O inseto cravado na casca
                           O dente cravado na boca

O tempo perante o qual se curvam a solidão e o sangue
O silêncio no qual se dissipa um resto de mim por toda parte

                   Esse ermo
                        Em forma de palavra

Manoel Olavo

1 de abril de 2014

EROS


O poeta teme
Ferir sua musa
Se tirar-lhe a blusa
E tocar-lhe a pele.

Musas: o que são?
São simples apostas
De amor, ou promessas.
Mas tu? És derrisão,

Risco, sobressalto.
És o que margeia
O topo da ideia
E toma de assalto.

Mais do que beleza
Tu és quem avança
Onde nada passa
E arrasa a certeza.

Helena: hei de vê-la
Nua. E afinal despida
(De corpo, alma e vida)
Amar-te, alva estrela.

Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...