29 de julho de 2012

LUA NOVA





Por que brilhar assim

Ó vaga lua nova?

Por que me prometer

O mar, o amor, a alma

Entrelaçada de distâncias

Se, quando vem  o dia,

A sua luz morre

No nada?


Manoel Olavo

26 de julho de 2012

NEL MEZZO DEL CAMIN


No meio do caminho da sua vida
Ele vinha só e as lágrimas caíam

Não era a solidão comum das árvores
Mas do aço rasgando a pele

Ladeado o rio, transposto o vale
Ele sonhou haver amor total

Amor, lampejo do absoluto
Centro do ser, úmida fonte

(Se quebrou, amor não era
Se partiu, amor não parte)

Amor feito lava de dentro da terra
Criando montes onde nada havia

Amor que chega e se prontifica
E não precisa explicar precárias faltas.


Manoel Olavo

17 de julho de 2012

A SERENIDADE É O DOM DAS PEDRAS





No chão
A vida abatida

Fingindo-me sereno
Pra escapar de mim

Alguém aí
No manto das palavras?

O que sobrou
Do salto do animal feroz
Da indecisão entre vida e morte?

Pedaços
A alma retorcida
E a serenidade:
Esse dom das pedras


Manoel Olavo

15 de julho de 2012

SEM VOCÊ


Sem você
Eu me vi só
O rosto
            [partido ao meio

Dor:
Como
Suportá-la?

Você
Que eu amei
Devolva a
Metade roubada
De mim

Preciso juntar
Minha alma ao corpo

Mais tarde
Inteiro e recriado
Hei de domar
O inferno das palavras
As pétalas pisadas
A sede de amar

Claro que
Pode ser sem você 


Manoel Olavo
        

14 de julho de 2012

IMITAÇÃO DE KLIMT



Nenhum poema imita o beijo dos apaixonados
                                      [no quadro de Klimt
Nenhuma foto de álbum antigo
Nenhuma lembrança
No lyrics
Nada

O caso aconteceu comigo:
A luz dourada jorrava sobre nós
E nossos corpos

Meu rosto em frente ao seu

- Você era uma imensa
lagarta falante grudada em
mim num casulo dourado -

O abraço quente 
A perna entrelaçada
Bocas querendo mais

No alto um espelho: encaixe simétrico
De sua pele mais clara do que a minha

Um ser andrógino
Coberto pelo lençol
Dourado e flores cintilantes

Estávamos os dois ali
Mas era um outro tempo

Manoel Olavo

10 de julho de 2012

ESPELHOS



Vi em teu olhar
O mesmo brilho.
Fagulha de amor,
Faísca, fato adiado.
Chamar-te, hoje,
Amor!, dá nome
Às coisas. Faz-te
Real como eu sabia,
Pois moravas em mim, 
Meu saber secreto, 
Desvão da minha alma.
Estavas sobre a cama solta,
Nas entranhas da dor,
No tempo que passei
Te esperando.
Eras o andar de sonho,
Sopro de luz nas palavras.
Estavas aqui, Amor.
Éramos um. Espelhos.

Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...