28 de outubro de 2010

A SERENIDADE É O DOM DAS PEDRAS



No chão
A vida abatida

Fingindo-me sereno
Pra escapar de mim

Alguém aí
No manto das palavras?

O que sobrou
Do salto do animal feroz
Da indecisão entre vida e morte?

Pedaços
A alma retorcida
E a serenidade:
Esse dom das pedras

Manoel Olavo

27 de outubro de 2010

HELENA

Algo de você
Me confunde
E arrebata

Vertigem

Espelho
Secular

Algo de você
Ecoa como
Tróia incendiada

Helena
A mais linda canção
Que já se ouviu
No mundo

Um dia
As margens se estenderão
E ouvirei seu nome
Bem de perto

Manoel Olavo

25 de outubro de 2010

TEU NOME



Pensava te inventar
Mas estavas pronta

Presença altiva
Na planura desenhada
De quem sempre rainha
Com palavras repentinas
Dissipa a sombra e fere
                          [à faca

Pensava te sonhar
Mas estavas viva

Lastro do corpo
Lonjura da alma
Nudez do rosto

Na alegria de te ver
E de saber-te cerca
Teu nome, amada, eu peço
Entre lençóis, cansaços,
                   [recomeços

Manoel Olavo

22 de outubro de 2010

SABER QUE TE AMO

É como um sonho desigual saber que te amo

Que, embora longe, minha alma desbrava a tua

É como um sonho singular de mãos dadas

Saber que me vejo em ti, és a medida

Que veio pra conter minha solidão.


Eu posso te sonhar além de espaço e tempo

Em brumas consentidas na luz de vidro

Em nuvens irreais de matéria minha e tua

E fazer amor como fazem os deuses...

E singrar-te como nau cortando a vaga...


Eu quero te beijar te tomar ao sol

Prometer amor à aurora levantada

Amar-te colossal enquanto o céu se enche

De gaivotas a mostrar para o universo

Um amor ao largo mas absoluto.


Manoel Olavo

17 de outubro de 2010

MONTANHA E MAR



Faz tempo
Eu vi o mar
Era da cor
Da sua poesia

Quis nela desaguar
Como a montanha
Encontra o mar
No abraço líquido
Das rochas

Como um verso
Riscado no ar
No dorso da
Melodia

Juntos, os dois,
Montanha e mar
Elementos desiguais
Porém pacificados

Manoel Olavo

NUM VOO NOTURNO

Num voo noturno
Vi seus olhos perfeitos
Mas medrosos

Um par de verde luz
Entrou pela janela

Os corações amantes vêm
E se consomem de noite

Tão seu e tão perdido
Eu me arrisco a
Cada encontro

Nosso amor
É um rumor
Em meus ouvidos

E o tempo é
Mera contingência


Manoel Olavo

9 de outubro de 2010

GAIVOTA

 
 
UM FUNDO AZUL


UM TRAÇO EM CURVA


UM OUTRO TRAÇO


ESPECULAR




NÓS DOIS UNIDOS


OU UMA GAIVOTA


NO AR?



Manoel Olavo

3 de outubro de 2010

OLHA-ME

Olha-me
Antes que eu parta
Para sempre
Como quer partir
O outro
Que anda
Ao pé de mim

Olha-me
Antes que acabe
A luz
Que havia
Nas palavras


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...