18 de agosto de 2010

QUEM ME DIRIGE?

De onde falo
Quando estou ausente?

Quem bate à minha porta
Com tanta insistência?

Quem me dirige?
Quem me digere?

Alguma melodia
Uma frase qualquer

É melhor do que este silêncio
Fruto do escândalo

Manoel Olavo

17 de agosto de 2010

SILÊNCIO


Não há mapa. No entanto procurava
Em tudo um lar. Em tudo a lembrança
Da primeira casa.

Apolo em seu carro
Sonhava o engaste do ser, o céu de asa
Flamejante, o sol, a porta sem aldrava.

Queria união mas nada veio.
Luz excessiva na manhã.
Voo cego. Cristal partido.

Ouça-me: se existe um lar
Ele não está nas coisas.
Impossível romper esse
Véu que separa os seres.

Não é conceito
Nem condenação:
É apenas silêncio.

Manoel Olavo

10 de agosto de 2010

SONETO DO AMOR-ALÉM

Sou eu quem há vinte anos procuro
Algum vestígio seu mas não consigo
Encontrar em alguém o que persigo
De unicamente seu. Assim juro

Que lhe serei fiel e, persistente,
Seu rastro hei de seguir com todo empenho
Pois o prazer depois premia o engenho
De conquistá-la, ó minha parte ausente,

Sal do meu ser, definitivo cântico.
Sem ter você, eu menti. Imaginei
Um amor burguês, outro amor romântico,

Todos meros simulacros. Mas quem
Me traz o amor com que jamais sonhei
É apenas você, meu amor-além.


Manoel Olavo

8 de agosto de 2010

POETA

Poeta é o pouco
Que resta
Do que lemos

Poeta é perdigoto
De outras vozes
É quase outro

É pele, pétala,
Peçonha no
Osso das coisas

Poeta é poço sem
Fundo, sede de aedo

Lambendo a palavra:
Não a que sonhamos,
Mas a que dá medo.

Poeta é quem morre cedo

Manoel Olavo

5 de agosto de 2010

MÃOS E VERSOS






Nas mãos

O gesto mínimo



Adiante

O labirinto



Letras gotejando

Pelas fendas



E as mãos

Sob um céu

De versos


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...