7 de fevereiro de 2010

QUE DIABOS EU ESTOU FAZENDO AQUI?

Às vezes me dá um desespero
De viajante que teve a bagagem
Extraviada durante o vôo,
E espera, aflito, no saguão do aeroporto,
Por sei lá que tipo de solução para o seu problema.
Ao lado, segue o desfile de passageiros
Que chegam e partem
- E por que passam tantos?
Eu fico aqui, prisioneiro,
Sem saber de minha bagagem,
Sem saber de mim, nem dos que passam.
Aqui permaneço,
Obediente aos trâmites
Burocráticos do destino,
Aguardando constrangido
A entrega do que me pertence.
Enquanto espero, nada acontece,
Tudo me dói, e eu penso:
Que diabos eu estou fazendo aqui?
Porque diabos vim parar neste lugar?
Como vim parar, ou fui atirado, ou caí de mau jeito,
Justamente aqui, neste jardim dissipado e sujo?
Será que acordei de um sono interrompido,
Para penar entre essa gente bruta?
Para ser mais um, no meio de
Assombrosa multidão
Que cospe, grita, dança,
Troca tiros, cheira cocaína
E prenuncia seu intimidado final?
Para ser provisório, banal, ressentido,
Dono de um assento recuado na platéia,
Membro de uma comitiva que se perdeu na selva,
Parte de um elenco feito de pedintes e dissolutos,
Prisioneiro imaterial de todos os defeitos,
Sequaz, mas também vítima, de um projeto
Errado de pessoa e de nação? Assim, continuamente,
Eu espero, num país sem mais virtudes, que não vive em paz,
Não cria insurreição - e se corrói, lento e altaneiro.
Mas recebi, não nego, e talvez isso me ajude,
Um lirismo tropical arrebatado,
Um coração grande e tortuoso,
E essa língua, que é mais tortuosa ainda!
Quer ver? Afinal de contas,
Que diabos é um baixio? Ou uma charneca?
E como faço para calar esse aranzel?

Manoel Olavo

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