Quem dormirá comigo nesse leito
De carícias tardas ao longo do dia?
(Eu que nunca quis o amor galante
nem pretendi assim glorificá-lo...)
Absorto, eu erro na paisagem
Calcinada, de árvores caídas,
De picos intermináveis. Choro
O que já tive outrora, sem sabê-lo.
Símbolos obscuros invadem minha alma,
Matéria exposta ao caos e ao recomeço,
Imersa em pó, gás, seiva e passos lentos,
A impor sua fatal humanidade.
Enquanto o mar, o deserto do Sinai,
A morada dos deuses, ao longe, acenam,
- Embora ermos ou petrificados -
Os seres do amor ainda cantam.
Manoel Olavo
12 de fevereiro de 2010
7 de fevereiro de 2010
QUE DIABOS EU ESTOU FAZENDO AQUI?
Às vezes me dá um desespero
De viajante que teve a bagagem
Extraviada durante o vôo,
E espera, aflito, no saguão do aeroporto,
Por sei lá que tipo de solução para o seu problema.
Ao lado, segue o desfile de passageiros
Que chegam e partem
- E por que passam tantos?
Eu fico aqui, prisioneiro,
Sem saber de minha bagagem,
Sem saber de mim, nem dos que passam.
Aqui permaneço,
Obediente aos trâmites
Burocráticos do destino,
Aguardando constrangido
A entrega do que me pertence.
Enquanto espero, nada acontece,
Tudo me dói, e eu penso:
Que diabos eu estou fazendo aqui?
Porque diabos vim parar neste lugar?
Como vim parar, ou fui atirado, ou caí de mau jeito,
Justamente aqui, neste jardim dissipado e sujo?
Será que acordei de um sono interrompido,
Para penar entre essa gente bruta?
Para ser mais um, no meio de
Assombrosa multidão
Que cospe, grita, dança,
Troca tiros, cheira cocaína
E prenuncia seu intimidado final?
Para ser provisório, banal, ressentido,
Dono de um assento recuado na platéia,
Membro de uma comitiva que se perdeu na selva,
Parte de um elenco feito de pedintes e dissolutos,
Prisioneiro imaterial de todos os defeitos,
Sequaz, mas também vítima, de um projeto
Errado de pessoa e de nação? Assim, continuamente,
Eu espero, num país sem mais virtudes, que não vive em paz,
Não cria insurreição - e se corrói, lento e altaneiro.
Mas recebi, não nego, e talvez isso me ajude,
Um lirismo tropical arrebatado,
Um coração grande e tortuoso,
E essa língua, que é mais tortuosa ainda!
Quer ver? Afinal de contas,
Que diabos é um baixio? Ou uma charneca?
E como faço para calar esse aranzel?
Manoel Olavo
De viajante que teve a bagagem
Extraviada durante o vôo,
E espera, aflito, no saguão do aeroporto,
Por sei lá que tipo de solução para o seu problema.
Ao lado, segue o desfile de passageiros
Que chegam e partem
- E por que passam tantos?
Eu fico aqui, prisioneiro,
Sem saber de minha bagagem,
Sem saber de mim, nem dos que passam.
Aqui permaneço,
Obediente aos trâmites
Burocráticos do destino,
Aguardando constrangido
A entrega do que me pertence.
Enquanto espero, nada acontece,
Tudo me dói, e eu penso:
Que diabos eu estou fazendo aqui?
Porque diabos vim parar neste lugar?
Como vim parar, ou fui atirado, ou caí de mau jeito,
Justamente aqui, neste jardim dissipado e sujo?
Será que acordei de um sono interrompido,
Para penar entre essa gente bruta?
Para ser mais um, no meio de
Assombrosa multidão
Que cospe, grita, dança,
Troca tiros, cheira cocaína
E prenuncia seu intimidado final?
Para ser provisório, banal, ressentido,
Dono de um assento recuado na platéia,
Membro de uma comitiva que se perdeu na selva,
Parte de um elenco feito de pedintes e dissolutos,
Prisioneiro imaterial de todos os defeitos,
Sequaz, mas também vítima, de um projeto
Errado de pessoa e de nação? Assim, continuamente,
Eu espero, num país sem mais virtudes, que não vive em paz,
Não cria insurreição - e se corrói, lento e altaneiro.
Mas recebi, não nego, e talvez isso me ajude,
Um lirismo tropical arrebatado,
Um coração grande e tortuoso,
E essa língua, que é mais tortuosa ainda!
Quer ver? Afinal de contas,
Que diabos é um baixio? Ou uma charneca?
E como faço para calar esse aranzel?
Manoel Olavo
5 de fevereiro de 2010
NOSSO AMOR
2 de fevereiro de 2010
RÉQUIEM PARA UM HERÓI
Abaixo da linha do Equador
No assoalho da civilização ocidental
Um herói nascido a fórceps
Funda cidades onde o mar distante se retira
Canta a alvorada celeste
Lança-se no ar
E explode em mil pedaços
Enquanto agradece os aplausos da multidão
Manoel Olavo
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