Enquanto existir a falha
Que se transforme em fábula
Enquanto partir a revoada
Haja rumor nas coisas despertadas
Rumor nas coisas, todas elas
Sussurrando entre fachadas
Transitam matéria e tempo
No golfo cheio de palavras
Gelado mar parte a galope
Por reflexos de prata
A memória de pé, glória amputada
Desabitada ilha, estreito, vaga
Nas lendas do território
O mesmo sol condena e salva
Enquanto eu morro lentamente
No silêncio da noite soletrada
Fale-me do mar, do gosto da
Frase evocada, do sopro de ar
Ocupe a palavra reduzida, densa
Faca contra faca, lata cortando lata
A brasa, a gota, o ritmo da fala
O nome sujo, o anjo sem asa
A palavra advinda, contradita
Cortada à navalha até ser nada
Além daqui é o traço que separa
Édipo da Esfinge, ou de Jocasta
Manoel Olavo