30 de junho de 2016

FÁBULA



Enquanto existir a falha
Que se transforme em fábula

Enquanto partir a revoada
Haja rumor nas coisas despertadas

Rumor nas coisas, todas elas
Sussurrando entre fachadas

Transitam matéria e tempo
No golfo cheio de palavras

Gelado mar parte a galope
Por reflexos de prata

A memória de pé, glória amputada
Desabitada ilha, estreito, vaga

Nas lendas do território
O mesmo sol condena e salva

Enquanto eu morro lentamente
No silêncio da noite soletrada

Fale-me do mar, do gosto da
Frase evocada, do sopro de ar

Ocupe a palavra reduzida, densa
Faca contra faca, lata cortando lata

A brasa, a gota, o ritmo da fala
O nome sujo, o anjo sem asa

A palavra advinda, contradita
Cortada à navalha até ser nada

Além daqui é o traço que separa
Édipo da Esfinge, ou de Jocasta


Manoel Olavo

29 de junho de 2016

ESTRANGEIRO

O sol cobriu os edifícios
Do céu caíram cor e cinza
O trânsito afinal andou
Tomaram o rumo de casa
Após anos de peregrinação
Sem pressa, por léguas a fio
Conforme manda a civilização

Eles cruzaram pórticos de vidro
Vestígio de grilhões, caos e cidade
Fria utopia de corpos de acrílico
Em trilhas desiguais proliferadas
Alguns lembraram, tarde demais
Do refúgio oculto onde havia
O estrangeiro à cata da palavra

Refém de sua partitura
O estrangeiro ouvia vozes
Óculos de sol, íris invicta
Som que não podia escutar
Preso no engarrafamento
Matéria ativa que o domina
Apesar da mortal ventania

Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...