24 de outubro de 2011

LÍRICA



Sobre o papel
Lançar o eco

De velhas ternuras
E sombras ao redor

Lírica do abismo
Talhada em granito

Viver entre paisagens
Conhecê-las, recolher

O fio de âmbar que
Escorre pela pedra

E é da cor dos olhos
Da primeira namorada

E tem o tom da pele
De outra, já esquecida
                       
Gota da fonte perdida
No rochedo da memória

Manoel Olavo

17 de outubro de 2011

ALQUIMIA

Dia de festa
A alma lá fora
Pendurada

Gente no portão
- Que me dirá
O amor em troca?

Alquimia simples:
Se viver não basta
Valha-me palavra

Manoel Olavo

3 de outubro de 2011

PALAVRA

palavra
posta
no papel
marca a
folha

palavra
fora
de mim
não passo
sem ela

palavra
toca seu
pincel
na carne
morna

palavra
lasca
do real
faca
na goela

palavra
estrada
vicinal
para o
acaso

palavra
dura
carcaça
oculta
chama

palavra
feita pra
vibrar
antes que
pa(e)reça


Manoel Olavo

2 de outubro de 2011

POEMA CONCRETO


Ivo viu a uva

Que lhe parecia

Forma de poesia

Ou de via crúcis


Manoel Olavo

FRESTAS



Eu sou o que brota nas pedras do muro
Apesar de ti e de teus desejos.
Sou o que solapa o mar e rói a carne
E ruge e transforma o ser num cão sem dono.
Eu me chamo ausência, o tempo é meu escravo.

Sou rei de extintos palácios, o guia
Da multidão aflita. O rosto humano
Me parece banal e, indiferente,
Eu sigo o rumo a serviço do não.
O fogo e as cinzas são o meu mistério.

Mas há o alvorecer: o eterno ciclo.
E a vida vem com o seu feitio d´água
(Ei-la que surge, afinal, renascida)
Penetrando o espaço aberto entre as rochas
Trazendo luz e cor onde eram frestas.

Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...