29 de setembro de 2010

CALMARIA


Sem ti eu trovejei
Por noites de cristal
Fiz bobagem à beça
Tomei veneno
Cortei os pulsos
Dei trabalho aos amigos
Perdi até as calças
Quis viver em claustros
Eliminar instintos
- O coração plantado sob a terra -

Bem feito, coração!
Quem mandou?

Agora, esse oceano Pacífico
Essa calmaria
Esse tom de mar
E nostalgia

Onde? Em seu olhar, é claro...

Em seu olhar:
Elemental como uma fada
Como um artefato, um alaúde
Que fica além além
Da breve bruma
Que tal brisa leve

Manoel Olavo

27 de setembro de 2010

MANHÃ DILACERADA

Aprende-se bastante vendo uma manhã dilacerada
Cortada em partes desiguais, a teus pés caída
Contei centenas de pedaços diminutos

Triste, doloroso espetáculo

Melhor ficar para sempre
Perdida entre os reinóis
Esta lembrança

Manoel Olavo

25 de setembro de 2010

ESCUTA


Ao teu redor
Eu venho voando
Como um pássaro
Em torno da lira
Como um vento
Que sopra à ilharga

Beleza demais
Da tua doce luz
Do teu verbo raro
Do beijo com sabor
De mares consagrados

Escuta:
Não há mistério algum
Há o segredo de te amar
E adormecer calado...

Manoel Olavo

1 de setembro de 2010

TUDO ESTÁ FEITO



Não faz sentido
A vertigem
Do poema

Tal feito
É impossível
Agora

A cornucópia de letras
Jorra
Em segredo

Um silêncio oculto
Dorme
Na sentença

Nada incorpora
Antes que lhe
Escape
Opala
Caos
Olho arregalado

A palavra vibra
Se mexe
Preci(o)sa rara

Suave demais
(O som)
A voz modula
E a palavra
Vaza

Será um Deus ex-machina?

Um silêncio oculto vem
Foge da sentença
Morre com ela
Na forma
Costumeira
De palavra

Não seja pétala
Mas teorema
Minha maneira
De obtê-la

Tudo está feito:

Ave!
Luz iridescente
Vestígio
Enlace

O poema alça voo
E lança-se nos ares

Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...