10 de abril de 2021

ATE MESMO PARA ENLOUQUECER


E pensar que tudo o que vivi até agora, tanto sonho, 

Vai acabar num murmúrio, num pé-de-vento.


E pensar que talvez nem mesmo essas coisas tenham

Existido, sejam somente a amostra de uma pequena


Tempestade cerebral, de emoções desalinhadas

À procura de um sentido em ideias preconcebidas.


E pensar que talvez nem haja você, nem haja Eu

(Esta palavra que cria tantas ilusões e falsas certezas).


Quem é senhor dentro do próprio castelo?

A quem obedecemos, a quem nos reportamos?


E por que a vida nos parece, ao mesmo tempo, 

Igual e desigual, etérea e material, real e imaginária?


Um dia tentei me equilibrar com um pé de cada lado:

Com um pé na dimensão do sonho, outro na realidade.


Foi quando me despedacei de modo irrecorrível,

Dei de cara contra o muro. Até hoje junto pedaços.


Foi quando compreendi que o barco não empurra o mar,

É o contrário. Foi quando compreendi que é preciso


Aconchego, um pouco de serenidade, alguma fonte farta 

De frescor, até mesmo para enlouquecer e ficar à margem.


Manoel Olavo

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