E pensar que tudo o que vivi até agora, tanto sonho,
Vai acabar num murmúrio, num pé-de-vento.
E pensar que talvez nem mesmo essas coisas tenham
Existido, sejam somente a amostra de uma pequena
Tempestade cerebral, de emoções desalinhadas
À procura de um sentido em ideias preconcebidas.
E pensar que talvez nem haja você, nem haja Eu
(Esta palavra que cria tantas ilusões e falsas certezas).
Quem é senhor dentro do próprio castelo?
A quem obedecemos, a quem nos reportamos?
E por que a vida nos parece, ao mesmo tempo,
Igual e desigual, etérea e material, real e imaginária?
Um dia tentei me equilibrar com um pé de cada lado:
Com um pé na dimensão do sonho, outro na realidade.
Foi quando me despedacei de modo irrecorrível,
Dei de cara contra o muro. Até hoje junto pedaços.
Foi quando compreendi que o barco não empurra o mar,
É o contrário. Foi quando compreendi que é preciso
Aconchego, um pouco de serenidade, alguma fonte farta
De frescor, até mesmo para enlouquecer e ficar à margem.
Manoel Olavo