21 de outubro de 2019
POEMA SINGULAR
De onde vem essa
Mulher tão singular?
Perdidamente seus mapas
Gostaria de encontrar
Saber de onde vem
Saber pra onde vai
Essa mulher tão singular.
Há tanto tempo te espero
Há tanto tempo quero
Tua esplêndida avidez
Teu riso, teu desejo por tudo.
O amor nasce assim
De dentro
Sedento
Tem a raiz cravada
Na inocência
No espelho da solidão.
Pensando em ti
Eu me incendeio
Singrando nas estrelas
Nos cabelos negros
No sorriso ensolarado.
Em teu nome
Tão singular
Em algum lugar de nossas vidas
Um derradeiro e grande amor se anuncia.
Manoel Olavo
14 de outubro de 2019
LUSITANA CARTOGRAFIA
Assim, enquanto o mar oscila sob a luz cintilante, permanecemos a postos para promover o embate das palavras.
É necessário contar, de modo renovado, histórias que os fundadores nos legaram com seu engenho e arte, erguendo os muros da nossa aldeia.
Nada se perdeu, nem quando os bárbaros nos acossaram. Tudo está aqui. É clara a nossa lusitana cartografia.
Contudo, podemos expandir os limites do reino criado pelos que vieram antes de nós (homens que nos deixaram somente o que sabiam nomear), e então singrar em liberdade por mares nunca dantes navegados.
Manoel Olavo
6 de outubro de 2019
TRÊS DA MANHA
Em casa
Três da manhã
Toda noite uma batalha
Uma parte nunca está
A outra chega adiantada
Manoel Olavo
ASTRONOMIA
Ele não podia dourar o céu, nem remover estrelas incrustadas, pois de nada ele sabia, ele, o aventureiro, o nômade domesticado, hoje em repouso após façanhas insuspeitadas, ele que, de mãos para cima, finalmente se rendia, ele quase um resumo de tudo, um momento novo, um arremate na biografia, uma vista aérea sobre o passado de bufão, de clochard, buscando algo que o fizesse olhar ao redor, cuidar da semeadura, erguer muralhas em torno do arraial recém-fundado. Passados alguns séculos, tudo isto desaparecerá, deixará de existir, o Rio de Janeiro será uma pálida memória, será só poeira e ar e lembranças desbotadas, mas ainda se ouvirá um grito vindo da varanda, um animal uivando no deserto, na areia em que os dois de tarde caminhavam, quando ela lhe disse que o cometa passaria, mas não seria visível a olho nu, e certamente não seria espetacular como se anunciava, aquilo era uma mentira, uma tapeação da mídia, e ele sorriu por dentro, irritado, de onde vinha tanta pretensão, quem ela pensava ser, o Ronaldo Rogério de Freitas Mourão...? Pensando bem, ela só era uma linda menina, e ele a amava justamente por isto. Muito pouca era a sua astronomia. Talvez ele devesse, se tivesse um pingo de juízo, ter se casado com ela.Mas ele nunca soube decidir as coisas na hora certa...
Manoel Olavo
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VENTO ELÍSIO
Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...
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Inverno Na dureza das palavras Inverno No breviário das sombras Inverno No equilíbrio das somas Inverno Lendo os próprios pensamentos Inver...
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