Partilhar contigo o legado do dia,
A manchete do jornal, o riso, a vida.
É bom estar aqui e saber-te advinda,
Pétala de sal, lençol de água corrente,
Sopro que, escondido, me sussurra baixo;
Ouvir-te falar de mim, às vezes grave,
Às vezes menina; saber porque sonhos
O teu coração navega. Hoje eu sei mais
Do que supunha antes, pois compreendi
Que sou de ti só a legenda e o pedaço;
Que me perdi sem vê-la; que és minha tela,
Minha múltipla missão, minha elegia,
Matéria sem a qual nada sobrevive.
Tua ausência dói. Sem ti, minha poesia
É estio, naufrágio dentro do silêncio.
Manoel Olavo