11 de maio de 2021

O AMOR É QUEDA



Durante muito tempo pensei que o amor era preenchimento do vazio. Era busca de complementariedade.

O amor, se verdadeiro, seria um encontro de equivalências, de franjas harmônicas. Uma tranquila e previsível correlação de corpo e alma num par amoroso.

O amor, pensava, era o reverso do espelho de Narciso.

Hoje vejo que não.

Eu estava errado.

O amor não é preenchimento, nem encaixe.

O amor é queda e dissolução.

O amor é queda no abismo. Uma queda imprevista, que desorienta e atordoa. Nela, a palavra amorosa silencia.

Amor é aquilo que puxa o tapete sob nossos pés e nos lança na indecisão da neblina.

Amor é que faz desmoronar certezas, as reduz a pó. É o que nos toma e arremessa, como tempestade, como erupção de lava.

O amor é um lugar ao qual somos levados em silêncio, e aceitamos esse caminho, pois não é possível compreender, nem esboçar qualquer resistência. Apenas seguimos em frente.

Amor é o que desmonta. É o que faz em pedaços e, ao mesmo tempo, ampara novas certezas. É o que permite brilhar novas evidências e ver o que era invisível aos olhos. Aquilo que estava oculto pela ideia distorcida de um amor que não era queda, incêndio, despedaçamento, mas mera convenção.

O amor, quando de fato se apresenta, é inegável, e dispensa as palavras amorosas. Sua presença é tátil, corpórea, sensível, embora improvável.

O amor é dissolução. É atravessar um território selvagem sem mapa, e depois dessa travessia, nunca mais ser o mesmo.

Foi o que finalmente aprendi. O amor é queda.

Não impõe luta, nem condições. Reluz, cintila, e tudo se cala.

O amor é fruto do mais profundo silêncio. 


Manoel Olavo

VENTO ELÍSIO

Lento e minucioso meu sopro caminha Por seu corpo nu pele branca à mostra. Eu, Elísio, vento soprando na fresta Inspeciono cada ponto oculto...