Durante
muito tempo pensei que o amor era preenchimento do vazio. Era busca de complementariedade.
O amor, se verdadeiro, seria um encontro de equivalências, de franjas harmônicas. Uma tranquila e previsível correlação de corpo e alma num par amoroso.
O amor, pensava, era o reverso do espelho de Narciso.
Hoje vejo que não.
Eu estava errado.
O amor não é preenchimento, nem encaixe.
O amor é queda e dissolução.
O amor é queda no abismo. Uma queda imprevista, que desorienta e atordoa. Nela, a palavra amorosa silencia.
Amor é aquilo que puxa o tapete sob nossos pés e nos lança na indecisão da neblina.
Amor é que faz desmoronar certezas, as reduz a pó. É o que nos toma e arremessa, como tempestade, como erupção de lava.
O amor é um lugar ao qual somos levados em silêncio, e aceitamos esse caminho, pois não é possível compreender, nem esboçar qualquer resistência. Apenas seguimos em frente.
Amor é o que desmonta. É o que faz em pedaços e, ao mesmo tempo, ampara novas certezas. É o que permite brilhar novas evidências e ver o que era invisível aos olhos. Aquilo que estava oculto pela ideia distorcida de um amor que não era queda, incêndio, despedaçamento, mas mera convenção.
O amor, quando de fato se apresenta, é inegável, e dispensa as palavras amorosas. Sua presença é tátil, corpórea, sensível, embora improvável.
O amor é dissolução. É atravessar um território selvagem sem mapa, e depois dessa travessia, nunca mais ser o mesmo.
Foi o que finalmente aprendi. O amor é queda.
Não impõe luta, nem condições. Reluz, cintila, e tudo se cala.
O amor é fruto do mais profundo silêncio.
Manoel
Olavo