28 de março de 2014
VENTO ELÍSIO
Lento e minucioso meu sopro caminha
Por seu corpo nu pele branca à mostra
Eu, Elísio, vento soprando na fresta
Inspeciono cada ponto oculto, toco
Cada vale, gomo, relevo, rego
E cada impressão deste contato
Gravada de modo geométrico
Permanece comigo na memória
Da passagem do corpo pelo vento.
Pra sobreviver, o sopro vira verbo
O esboço visual vira palavra.
Por isso não desprezo o verso,
Seu esforço evocativo. De fato,
Louvo este exercício de som
E sentido, sintaxe da permanência,
Capaz de despi-la plena puta nua
Desatinada inteira ao meu comando
Arte e efeito de tentar mantê-la
Sob meu domínio, embora comigo
Não esteja, nem ao menos consinta.
ENVOI
Lento e minucioso meu sopro caminha
Por seu corpo nu pele branca à mostra
Não ouso abandoná-la à própria sorte
Antes perdê-la ao verso que à morte.
Manoel Olavo
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